Tenho vícios de cordeiro

                     e também sua tirania.

                     Nunca aprendi a revidar.

                     Mil vezes, mil vezes

                     a minha melancolia, essa forma

                     quase doce de abençoar

                     quem não fui, embora

                     por vezes me enjoe.

                     Tudo quanto não sei

                     me exaspera. Exagero!

 

 

                   

 Gosto não se discute. Correntemente essa frase é utilizada quando se quer estabelecer a idéia de que gosto é algo radicalmente subjetivo e imutável. Ora, a imensa variedade de sujeitos com preferências e opiniões distintas entre si e o fato de um mesmo sujeito mudar de preferências e opiniões fazem prova de que a complexa estrutura psíquica humana é capaz de aprender e de modificar o que se aprendeu. Subjetividade não combina com imutabilidade, logo a frase em questão é contraditória.

Diz-se também que personalidade vem da natureza. Quando atribuímos à natureza a existência de alguma coisa, estamos simplesmente dizendo que esta coisa não foi criada pela cultura, nasce-se com ela. Não há necessidade de aprender o que é natural. O natural é inato. Essa coisa chamada personalidade é inerente à pessoa. Pessoa e personalidade vêm da mesma palavra: persona. Ninguém nasce pessoa. Ninguém refere-se a um bebê como "aquela pessoa" pois sabe-se que personalidade tem a ver com um sistema mais ou menos definido de gostos, preferências que se vai adquirindo com o tempo.

Embora as preferências e as condições que formam a personalidade sejam tão subjetivas e mutáveis, há uma constante que não podemos desprezar. É o princípio do prazer. Todo ser dotado de sensibilidade tem a propensão natural de afastar o que lhe está associado à dor e buscar o que lhe é prazeroso. O gato morde o homem que lhe pisa a cauda e o vegetal cresce em direção ao sol. Para o gato é bom que não lhe pisem na calda. Para a planta, é bom crescer em direção ao sol. O ser humano não foge a essa regra. O bebê humano é capaz de manifestar sua percepção de prazer e dor e essa capacidade não se perde com a idade. O que muda é a forma como se dá essa manifestação e o objeto do prazer ou o da dor que, por sua vez, dependem das circunstâncias. O que permanece imutável é o fato dos sujeitos estarem sempre buscando o que lhes parece bom, e afastando o que lhes parece mal. É sobre esses dois conceitos que trata a ética.

A ética é uma ciência comprometida com a busca aprofundada das relações entre o homem e os conceitos de bem e de mal. Trata-se de uma ciência da qual não podemos nos esquivar pois o bem e o mal, o certo e o errado, impregnam nossa conduta prática. Embora a grande maioria não pense no assunto, o comportamento humano é uma contínua resposta às questões éticas. É nesse ponto que nasce a distinção entre ética e moral.

...Vemos ``pessoas`` praticando Tirania como se fosse normal e/ou natural...


 

                 Tudo o que exagera me enlouquece:

                     tédio, volumes, vulgaridades

                     burrices, hormônios, deslealdades.

                     Nenhuma maldade é suficientemente pequena

                     (pequena é a alma que a contém).

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 16/12/2010
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T2674633
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