O oco de meu ser
Preciso de um pano, uma capa, um plano...
Quero algo que me esconda, me encubra de minhas idéias; elas me seguem, perseguem meus passos, olhares, que será que pensam minhas idéias?
O quarto se tornou úmido, pequeno; de ar abafado e aspecto horrendo.
Procuro uma luz, e elas me seguem, sim estão me perseguindo.
Os objetos estão assustadoramente colocados ao mesmo lugar de antes.
As sombras aumentam, abajures, cabides, porta-retratos com olhares sóbrios, sérios, me encaram em busca de algo. Não sei o que é.
Tento não pensar nisso, tento não pensar em nada, passo os olhos neste cenário horripilante.
Sinto asco, abafado, me falta ar. Me aproximo da janela tentando erguer o corpo em vão. Nem mesmo um músculo se mexe, apenas a sombra de minha silhueta estática.
Me acomodo entre as almofadas que me engolem lentamente. Sinto-me pequena, estou diminuindo no universo, escorro em suor e desespero, abro lentamente a boca e grito.
Grito silenciosamente a meia luz, perseguida por sonhos, sombras, memórias de algo que ainda não aconteceu. Um rompante em meu peito, o telefone toca estrondosamente, não atendo, não ouço nada , estou no eco do universo, no oco de meu ser.
Tentei vestir, encobrir, disfarçar meu silencio me pintando de alegria.
Em vão, em vão...
Apenas o aumento da agonia, meu reflexo distorcido, busca saída da tormenta, e nesta câmara desesperada esvaio todo meu ser, buscando ser acalentada, amparada destas idéias sórdidas, cigarros e canecas vazias.