A auto-iluminação do poeta
A filosofia e a poesia são essenciais. Quem desdenhar, menosprezar ou alijar para longe de si uma delas corre o risco de flanar pela vida como um zumbi, sem a elementar consciência de si mesmo e do mundo que nos cerca e nos embebe, pois da filosofia e da poesia dimanam tudo o que existe, concernente ao criado pelo homem e ao que preexiste, coexiste e persiste, independente da vontade humana, do seu talante. Dessas últimas sendo o homem apenas um observador, quiçá consciente.
Essa consciência se consolida através da auto-iluminação. E na escrita infiro que um verdadeiro escritor não deve se apoquentar, se melindrar, deixar seu ânimo se arrefecer à crítica alheia, pois esse não deve ser o seu objetivo – o angariar respaldo ao seu trabalho – bajulando os críticos, para que lhes dêem um átimo de seu tempo, migalhas da sua atenção, sobejos dessa. Não, um verdadeiro escritor só deve acreditar ou creditar, dar validade a sua própria crítica, sua auto-crítica, pois somente essa é que, na realidade, conta. Quando o escritor julgar sua obra boa e irretocável aí sim saberá que realmente poderá ser qualificado como tal, pois se auto-qualificará.
Se alguém está desgostoso, ou desencantado com o que seus coetâneos estão fazendo, que faça conforme seu gosto, não em cotejo, não comparando-se com o que está sendo feito, mas seguindo a tendência do próprio gosto. Isso sim é ser um crítico, é ter personalidade crítica.
Então, se estou desencantado com a música que estão fazendo que então eu venha a comprar um instrumento com o qual tenha uma certa afinidade e então faça a música que apraz ao meu espírito. Assim também no tocante à pintura. Se os quadros que vejo hoje não suscitam nenhum embevecimento ao meu espírito que então eu venha a comprar um cavalete, tintas, pincel e telas e venha a pintar conforme o gosto que enleva meu espírito. Assim também com relação à poesia. Se a poesia que hoje leio não faz meu coração vibrar em uníssono, que então eu faça a poesia que me cause enlevo, que me suscite o deleite que anelo.
A poesia é mais do que um gênero literário. É uma iniciação esotérica, na qual o postulante a poeta se burila em cada nível, em cada estágio da evolução da sua escrita, concomitantemente a evolução do espirito, pois a sua escrita lhe deslinda essa realidade ainda não vislumbrada pelos profanos, os não poetas, que o faz antegozar a angelitude, o sublime em si mesmo.
Só se aprende a gostar de poesia quando começamos a escrever poesia.