SOBRE A LUCIDEZ
Entendo que haja dois tipos de lucidez: Uma, a primeira, aceitável pelos padrões “normais” da sociedade. É pois uma lucidez social que consiste em raciocinar e transpor este raciocínio para ações indiferenciadas. Quer dizer, ações que qualquer pessoa socialmente aceita tomaria em dada circunstância. Essa lucidez nada mais é do que um mecanismo inconsciente de repetição apreendida pela observação de outros.
Agora, existe também a lucidez individual que é patrimônio de todos individualmente e que, uma vez confessada, seria tomada como sintoma de demência. Mas esta lucidez é o melhor de nós e consiste em raciocinar e transpor este raciocínio para ações singulares e independentes de todo e qualquer esquema que não o da própria pessoa. Nessa lucidez, geralmente sublimada, está a autenticidade de cada indivíduo e o difícil é trazê-la à tona numa sociedade viciada como a que vivemos, sob pena de sermos marginalizados em nossa lucidez como loucos.
Mas existem alguns meios sutis de se conseguir, em parte, aflorar esta lucidez de modo a não ferir o comum e se resvalar através dele. Contudo, estes mecanismos não podem ser repassados a outros, pois só se aplicam ao seu mentor e apenas a ele. Cabe a cada um forjar um meio específico e através dele se estabelecer num espaço seu e tão-somente seu, inalienável.