Não que estivesse triste, só não sentia mais nada
Não. Dessa vez é diferente. Não é que ela esteja triste, ou em desespero, ou almadiçoando aquele que um dia ela tanto amou, e tanto ama. Talvez, bem no fundo, ela sempre soubesse que o que ela chamava de amor era um sonho apenas. Um sonho bonito, é verdade. E que ela esperava realizar, sim, mas que no fundo, bem no fundo, sabia que era só um sonho!
Não é bem decepção o que ela sente. E não, não chega a ser tristeza. Mas, de repente, ela sentiu um vazio, e o peito frio, e alguma lágrima vez por outra rola por sobre sua face. Saudade? É possível, se ela nunca o teve? Solidão? Mas no amor ela sempre esteve só. E sobreviveu. E sobrevive dia após dia, queda após queda. Mais forte, talvez. Ou talvez não. Às vezes sangra horrores, mas já não dói tanto. Ela já se acostumou!
Não, ela não está triste. Ela só sente que acabou. E não, ela não está com medo de ficar sozinha outra vez, mais uma vez. Ela sempre habituou - se à solidão com tanta leveza. Eu poderia dizer, sem medo de estar enganada, que elas são bem amigas até. Tão amigas que ela deixou de lhe doer.
Dessa vez é diferente. Ela sabe que acabou. Ela sabe que ainda o ama. Ela sabe que ele fez parte dos sonhos mais lindos que ela já sonhou. E ela sabe que vai ter que reaprender a vida a partir de agora. Sem ele. E vai ter que reorganizar cada pedaço de si mesma. Claro, vai ser doloroso. Ela nunca mais será a mesma. E ela nem quer mais ser como antes. Talvez o antes que ela era não era o bastante. Nem pra ela, nem pra vida que ela queria ter.
Não, não foi de repente. Ele foi, aos poucos, se afastando dela, e cada vez mais aumentava entre eles um espaço cheio de nada. No coração dela, além das lembranças que ela inventava por não terem eles vivido tão profundamente esse amor, carregava também uma cansada esperança de que tudo se tornasse real um dia. E pensava, com um leve sorriso banhado por uma lágrima de saudade do que nã foi, no "talvez, um dia". Mas ela sabia que esse dia não chegaria. O amor que sustentava essa relação era nutrido somente por ela. E ambos sabiam disso. Mas ela insistia em acreditar. Ela simplesmente acreditava no amor que ele, talvez, lhe mentia. E se contentava com migalhas. Com pingos de amor. Até acreditava que era feliz!
Pobre menina sonhadora... dormia e acordava com ele no pensamento, e com um sorriso nos lábios, molhados pela lágrima da esperança... uma esperança cansada, tão cansada de esperar, mas que não ousava desistir, desanimar, deixar de lado um sonho tão antigo e tão rico de beleza e amor. Mantinha - se verde, com o vermelho do amor em suas mãos.