Afirmações, aceitar ou rebatê-las?



 
O que é afirmado sem base científica também pode ser descartado sem base científica.”  Esta afirmação não é minha, mas faz muito sentido. Esta foi uma afirmação efetuada pelo senhor Christopher Hitchens - um amante da lógica, especialista em retórica, sem formação científica - em uma tarde de domingo de 2003, a um médico que segundo Hitchens era um charlatão que enganava a população da India.
Hitchens deu uma contribuição muito significativa a forma como encaramos argumentos não científicos. Especializou-se em confrontar propagadores de pseudociência, pois sendo um jornalista com profundo conhecimento de lógica e de retórica, possui uma habilidade única e invejável de revelar as estruturas de uma argumentação até atingir seu cerne.
 
A frase inicial é recheada de pura verdade. É engraçado como os mesmos que fazem afirmações sem o menor respaldo científico, são os primeiros a se arvorarem na falaciosa argumentação de que temos a obrigação de apresentar assertivas baseadas em fatos científicos quando não concordarmos com sua afirmação.  
 
O mais engraçado é que nós, amantes da lógica, do racionalismo crítico e da ciência, acabamos nos sentindo desconfortáveis quando não conseguimos evidências racionais e científicas para descartar assertivas que não tem por origem base cientifica. É muito forte nossa preferência por nos submetermos as evidências – quando disponíveis – e também as análises lógicas no intuito de corroborarmos uma linha argumentativa que forneça contraprovas que questionem a assertiva inicial.
 
É óbvio para mim que não necessitamos muito esforço para descartarmos afirmações efetuadas sem princípios científicos. Da mesma forma que o interlocutor a pôde afirmar, podemos descartá-la com afirmações também não científicas. O que não vale é tentarmos baseado em pura pesquisa, sem nenhuma prova efetiva, muitas vezes até com várias evidências conjecturais, tentar nos utilizarmos desta teoria para descartarmos nosso interlocutor, como se estivéssemos baseados em pura ciência. Estudos sem provas, apesar de poder ser séria ciência, permanecem ainda em estado de crença. Sem evidências, sem provas e sem meios de refutação não pode ser considerado cientificamente provado. Por isto nos utilizarmos destas argumentações para “vencermos” discussões é maldade. Não podemos tratar crenças como se verdades absolutas fossem, até mesmo porque verdade absoluta é praticamente impossível de ser provada.
 


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 03/12/2010
Reeditado em 03/12/2010
Código do texto: T2651767
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