Você só consegue ver a mudança
What you can see? You just can see the change. O que você pode ver? Você só pode ver a mudança. Se você atravessar doze oceanos mortos, dez montanhas místicas, meu querido, seus olhos azuis só poderão ver a tempestade se formando lá no longe... porque é apenas isso que pode acontecer, a mudança. Ela é a única coisa a ser notada. E talvez você diga que the times the're a'changin, e se você notou que atrás da tempeste vem um cavaleiro negro com sua espada da destruição é isto mesmo, o tempo está mudando. Mas se você não enxergar nada além disso, você estará ficando para trás. Já notou que a tumba estava fria quando deitaram o cadáver, agora é hora de saber para onde rolam as pedras sem destino.
As coisas são assim para Bob Dylan, se quiser ouvi-lo, vai ter de entende-lo. Ou não. Um pouco dele morre a cada disco, e outro pouco se renasce a cada canção. Não existe mais aquele garoto franzino que cantava com a voz fanha frenéticamente sobre as ruas de inverno em Nova York, muito menos existe aquele cara que acusava os trovões nas montanhas. Existiu um pai de família, existiu alguém preocupado em dar melhores condições de vida para seu próprio lar, mas morreu. Renasceu, mas morreu. And born again. Sua velha motocicleta também não existe mais, nem os ferimentos na sua perna. Algumas canções devem ter se perdido no tempo, Woody Guthrie que o diga, mas o Dylan também se perdeu no tempo, nas ruas... no vento. Ele deixa um sussuro a cada aparição, é apenas isso. As pessoas irão se aglomerar na sua frente com camisetas, com colares, com pensamentos e citações, mas ele lançará apenas um suspiro em direção contrário ao lado que vocês estarão olhando e lá que ele estará. Longe das cercas embandeiradas que separam os quintais. Ele vai sair ser dar bandeira, porque quem dá bandeira tá marcando.
Então esse é o lance, você não ouve com os ouvidos, por mais que a professora te ensine, você ouve a todo momento as suas canções, elas são o banquete dos mendigos, por mais que soe contraditório, mas já que se falou das pedras que rolam... Mas então seus olhos nunca se cansaram olhando para o longe? Você nunca imaginou uma auto-estrada sem fim que cruzasse apenas com a avenida dos sonhos e que te levasse para um lugar onde a festa não acabasse jamais, e as garotas usassem roupas minímas para mostrar seus belos corpos? Este é o sonho, e o sonho deve ser sonhado. Lá se vão os vagabundos consumindo os seus sonhos, cada cigarro é um pensamento, não um prego no caixão.
Eu aprendi a gostar do vento, eu aprendi a sentir o vento e a ouvir música. Aprendi a falar sobre a terceira guerra mundial, aprendi a ouvir os sinos da liberdade. Tudo porque soou um estrondo no fundo do beco e soou também nas esquinas lazarentas, varrendo a poeira de cima dos violões velhos, e as cordas adormecidas estavam frenéticas no badalar de uma sinfonia que sorria na contramão para o trem que estala 100 k/h em sua direção. Este era o sonho. Esta era a redenção. E hoje eu me confundo com Bob Dylan, confundo as árvores com canções tristes, confundo as chaminés com grandes carros negros, porque no fundo eu sei que tudo é a mesma coisa, e apenas o que pode ser visto é a mudança....