Como uma nuvem fugaz
Ah! Como são grandes e fofas as nuvens, se movendo lentamente, como senhoras gordas e simpáticas caminhando no raso do mar, parando para comentar esse ou aquele detalhe e rindo pesadamente sobre o nada. No seu movimento parecem sinalizar o contrário, que elas estão ficando e nós é que estamos indo, sempre indo, enquanto elas, certas de sua posição no mundo, no seu destino de chover em algum lugar, vão molhar uma flor ou lavar um pranto antes de voltarem a serem nuvens. Não me desagradaria ser amigo de uma dessas, e poder rir com ela da fugacidade da vida da qual elas entendem tão bem. (Vejam essa garota que passa, que ri, que é simpática com os atendentes de loja derretendo inúmeros corações com o branco de seu sorriso, ela chega, chove sobre nós toda a sua tempestade de mulher, para depois sumir no ar, e nos deixar ensopados e assustados, pegos sem guarda chuva). A vida se explica nas nuvens, e seu ser por instantes, em seu ser passageiro que morre para dar a vez a outros tipos de vida, sem o egoismo de querer durar mais que o necessário. Vocês que são irmãs e se entrelaçam no céu, que brincam o dia inteiro de criar formas, vocês que tornam os dias lindos ainda mais perfeitos: São vocês que ficam, nós é que passamos.