Adolescencia

É fácil reparar nas outras pessoas quando se está sozinho, mesmo às vezes parecendo impossível com tanta distração. Elas, as pessoas são tão normais que me envergonho muitas vezes dos absurdos que vejo nelas, mas a culpa pertence às próprias! Elas me fazem pensar coisas ao seu respeito porque não me explicam quem verdadeiramente são. Se parassem ao menos para me dizer que não é essa coisa que tenho em mente, pode ser que fosse diferente, mas certamente eu ficaria desconfiada, pensando “ será que esta pessoa mentiu ou não?”. Desconfiar é uma das coisas mais comuns que alguém poderia fazer, pelo menos para mim e por enquanto, me cansei de ver as pessoas dizendo que morreriam uma pelas outras e por fim, enjoam de falar asneiras e elas mesmo acabando se matando, um dia, se eu não tiver mais o que dizer, posso até pensar assim e entender o que leva cada um cometer os atos que comentem, mas ainda sou jovem para ter certeza do que há do outro lado da vida, não se pode ter essa linha de raciocínio com a idade que tenho, já que ela enlouquece. Me contento com só essa loucurinha que tenho, ela já me dá bastante trabalho. Se um dia ela crescer, ai sim vou precisar “dar com a cabeça na parede” tentando perder a memória, se bem que essa idéia é péssima! Se não faz um galo e eu não gosto de acordar cedo. Mas perder a memória poderia ser interessante, pelo menos por uma incompreendida que não tem amigos, mas a mesma que já teve. Essa criatura parece até a menina da mansão rosa, tem de tudo e esse tudo impede dela conseguir ter mais.

Conheci a menina da mansão rosa há alguns meses atrás, ainda nesse ano e fiquei reparando no tamanho do salto que ela usava, eu tinha certeza que ela cairia, ela ia balançando de lá e de cá, fazia um equilíbrio com uma forma absoluta como se tivesse equilibrando numa corda, se caísse, morreria. Coisa que por enquanto, ela não queria. Andava com umas meninas feias, mas muito bem vestidas. De todas, ela era a única que não usava maquiagem, no cabelo não tinha nenhuma chapinha, mas era belo! A menina da mansão rosa sorria e as outras tentavam também, mas morrendo de inveja. Pobre garota! De tanto viver acompanhada não percebeu o mal que a cercava. Acho que ela não merecia a vida que tinha, andava sempre de carro, estudava na melhor escola, conhecia as pessoas mais elegantes, ainda sim, muitas vezes, os pais recusavam dar a ela um presente, coisas que ela tanto queria. Ela não era como as demais que pediam o arco Iris, ela queria só um vestido novo e os pais não quiseram dar, os pais guardavam no banco, era muito dinheiro, ela tinha que se contentar com o que tinha, o corpo bonito ajudava a disfarçar as roupas velhas. Até que ela resolveu ter um sonho, pior burrada que ela podia fazer. Ela queria muito conhecer o outro lado do mundo. Com o dinheiro que os pais tinham no banco, dava para fazer isso umas cinco vezes, mas ela nem pediu, sabia a resposta, precisava só de alguém para desabafar, as outras não a quiseram ouvir. Ela magoada, sentou no primeiro banco a qual eu estava e começou a chorar. Eu fiquei olhando até me encorajar e dizer qualquer coisa, podia bem arriscar, eu conhecia muito bem seus movimentos, todos os dias enquanto eu esperava o ônibus, ela fazia o dever de casa esperando o pai que sempre passara por ali. Não falamos muito, ela só me perguntou se eu não me cansava de estar só. Eu não respondi, não tinha nada para dizer também e mesmo que eu dissesse estaria mentindo já que não tinha motivo nenhum.

Por instante rimos do homem que tropeçou na outra calçada, ela foi embora e no outro dia me contou um pouco de sua historia, depois daquele dia, nunca mais a vi, acredito que tenha se perdido dentro da imensa casa.

Era divertido ter companhia as vezes, mas não me arriscava, tinha remorso do meu passado e só esperava que um dia o pesadelo fosse acabar. Nem meu diário me suportava mais, não sei se eu era chata, ou amiga demais, só era sincera, quando me perguntaram se morreria por alguém, negava! Conhecia essa historia por perder dois namorados por isso, mas poderia até ser um ato interessante, mas egoísmo consigo e burrice, que tipo de amigo é esse que quer ver o outro morto? Mas que doideira, estou é fora, prefiro ficar aqui com esses meus outros absurdos...Essa coisa de ter amigo imaginário do que ter uma rotina e sofrer tentando agradar os outros. Eles me agradam? Se agradassem saberia recompensar. Não posso vender a mercadoria por 20 se paguei 30, por Deus! De prejuízos chega. Não sei pra que tanta ganância, chego a pensar que os pais da menina da mansão rosa até doaram ela para algum, assim não teriam mais gastos. Coitada! Tão feliz, tão amaldiçoada, já cedo odiada sem cometer atos que dão mérito para isso.

Eu já entendi duas ou três vezes, mas se alguém quiser me explicar, por favor, disponha que eu já esqueci. E sabe esse sujeito que esta passando ali na frente? Com certeza ele é doente, olha para aquela face, nem da para reparar de tão longe que ele está, quando uma pessoa esta longe, fico tentando ver se conheço, não da para ver nada, alem das cores, principalmente da roupa, mas é curioso como se tira conclusões só da criança cursar o seu trajeto. Acho que preciso mesmo falar com alguém. Não tolero essa mania de dizerem que é o fim do mundo, discordo! Para mim, fim do mundo é viver acreditando que o mundo acabara amanha. Que proveito tira uma pessoa assim do hoje com tanta desconfiança? Seja qual for, desconheço. Um dia desses, tomo juízo e acidentalmente aprendo. É sempre assim não é? Não foi por acaso que me tornei tão solitária! Acidentalmente, eu cresci.

Tatiane Sbrugnara

Taty Sbrugnara
Enviado por Taty Sbrugnara em 26/11/2010
Código do texto: T2638229
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