O Nada
Onde morava não tinha nada. Nada de nada mesmo. E assim foi por muito tempo. Vez ou outra aparecia alguma coisa, mas nada que chamasse atenção. Gostava daquilo, lá podia ser da forma que eu queria; ninguém se intrometia. A tal da solidão era boa. Tão boa que a odiava. Cansei-me dela.
Como se ouvisse as minhas preces, alguma coisa apareceu por lá. Essa era de verdade, podia tocá-la até certo ponto. Impressionante o brilho, a vivacidade, a forma como tornava todo aquele vazio num lugar cheio. Precipitadamente achei que a solidão estivesse, enfim, terminada. Simples engano, quando ia chamar de meu, este sumirá, desaparecera. Certamente não era minha. Demorei em acreditar, não conseguia ver de outra maneira, para mim ainda existia! Mas não, o engano persistia. Eis então o choque de realidade. Dele despertei aquilo tudo nunca existiu mesmo. No fim, de volta ao começo, começo do nada de nada mesmo.