Sombra

O robô parou. Exatamente na sua frente. Sorriu. Por dentro estava derretendo, não o robô, mas os olhos que não conseguiam desviar-se.

Queria ser o oposto. Sentia, infelizmente. Chorava, infelizmente. Possuía o que de mais humano uns desprezavam. Queria fazê-lo também. Era impossível. Como achar uma saída para aniquilar a própria alma já moldada?

Humanizar era, talvez, a tarefa mais árdua de sua total existência: no sentido de negação. Era como se fosse um Deus tentando tornar-se apenas um.

Aquele olhar não engana. Todo conjunto, até poderia; todas palavras despejadas, poderiam; toda multidão gritando, poderia. Mas quando se tratava de olhar permanentemente, não sabia mentir.

Gostava de brincar com sentimentos novos rotulados. Facilidade.

Enquanto os olhos brigavam infernalmente afim de desvincularem-se de algo, o robô continuava paralisado. Apenas rotulando, rotulando, rotulando...

Mariana Rufato
Enviado por Mariana Rufato em 17/11/2010
Reeditado em 22/05/2013
Código do texto: T2621555
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