Sombra
O robô parou. Exatamente na sua frente. Sorriu. Por dentro estava derretendo, não o robô, mas os olhos que não conseguiam desviar-se.
Queria ser o oposto. Sentia, infelizmente. Chorava, infelizmente. Possuía o que de mais humano uns desprezavam. Queria fazê-lo também. Era impossível. Como achar uma saída para aniquilar a própria alma já moldada?
Humanizar era, talvez, a tarefa mais árdua de sua total existência: no sentido de negação. Era como se fosse um Deus tentando tornar-se apenas um.
Aquele olhar não engana. Todo conjunto, até poderia; todas palavras despejadas, poderiam; toda multidão gritando, poderia. Mas quando se tratava de olhar permanentemente, não sabia mentir.
Gostava de brincar com sentimentos novos rotulados. Facilidade.
Enquanto os olhos brigavam infernalmente afim de desvincularem-se de algo, o robô continuava paralisado. Apenas rotulando, rotulando, rotulando...