Lamentos de Um Mendigo

Estou há dias sem comer. Eu sinto sede, mas não há água para se beber. Sinto que estou no fim, não vejo mais o que há na minha frente, mas tudo, sem exceção pode me ver. Sim, eu sinto que podem, eles riem, eles não tem a menor idéia do que sinto. Eles foram feitos de cimento, por mais que se desgastem, não são tão fracas assim a ponto de precisar de sustento. Foram feitos para durarem, eu já nem me lembro para que fui feita, mas acredito que sem ar, não consigo sobreviver. Então riem! Por favor, riem mais. Logo só sobrara o fedo da minha carne apodrecida e a cara chateada de vocês, casas futuramente serão demolidas para que venham outras no seu lugar. A mesma cara de sempre, só que ninguém consegue ver, eles não se preocupam com isso, eles só querem um lugar para viver. Ora, também queria um, mas trocaria toda a minha vida por um prato de comida, mas não! Estou tão fraca que minha vida toda vai acabar e não terei um gosto sequer para me lembrar. Se é que vai restar lembrança, sou vou levar comigo a alegria e a única alegria que tenho são dessas criaturas que caçoam do meu sentimento.

Parecem séculos cada segundo. Vivo, sem aproveitar nem o que sou, ou o que nasci para ser, mas eu já me esqueci, esqueci que estou aqui. A única coisa que me lembro são coisas que não desaparecem nem um minuto, essa coisa que eu tenho aqui dentro, isso que não me deixa mais andar. Isso que me prende ao chão aonde eternamente eu vou ficar. Eu não consigo pensar em nada. Será que tive um passado? Será que acaba aqui o que tanto disseram ser o futuro? Será, porque tanto será? Mas só mais! Será que vou morrer? De que adianta perguntar. Se não passara ninguém e respondera para um mendigo. Eles acham que uso drogas, eu acho que eles são felizes, por fim, não faço o que eles acham e eles não são o que eu acho. Pensei que o ódio fosse mais fraco que a fraqueza, agora percebo que não há chama se a chuva continuar. Não nessa imensidão de nada, já que é tudo que vejo. Eu já não vejo e tudo continua existindo. Cadê o ar. Se ele sumir eu não vou conseguir respirar, alias, eu já não sei, só mais um pouquinho, por favor vida, me deixa inspirar. Vida? Percebo agora que nem a tenho e morro me perguntando se um dia tive.

Tatiane Sbrugnara

Taty Sbrugnara
Enviado por Taty Sbrugnara em 17/11/2010
Código do texto: T2621524
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.