Vira-Lata
Sinto-me como um cachorro que está no topo de um prédio, preso a uma corrente, vendo no prédio vizinho os gatos passeando. Os gatos representam a possibilidade de uma vida nova. De liberdade. O outro prédio é a esteira por onde essa nova vida andará. Uma esteira novinha em folha, sem ferrugens, sem as ferrugens da velha vida.
Mas estou preso a uma corrente.
Posso me desamarrar dela e tentar pular para o outro lado, mas se o impulso não for o suficiente a queda poderá ser irreversível. Posso saltar com a corrente, o comprimento dela é suficiente para alcançar o outro prédio. Mas se o impulso não for forte o bastante, corro o risco de me enforcar e/ou ficar pendurado pelo pescoço até que me puxem de volta pra cima. Realmente, não sei qual seria a pior opção: morrer enforcado ou ser içado para a velha e miserável vida, acorrentado aos meus tormentos.
Então, o que fazer?
Me livro de todas as amarras e tento alcançar o outro lado, me arriscando a cair num buraco sem volta?
Ou tento o salto, mesmo amarrado aos velhos hábitos, correndo o risco de me enforcar ou voltar à velha vida com seqüelas decorrentes do fracassado pulo?
Ou esquecer essa loucura e ficar ali, acorrentado, resignado a ver todo um mundo de novas possibilidades à minha frente, acomodado, sem correr riscos, me manter preso àquela casinha quente, recebendo comida e água fresca todos os dias, satisfeito por fora, enquanto estou sendo corroído por uma ânsia aguda por dentro?
Não sei o que fazer... Coloco o rabo entre as pernas, me enrosco na corrente e fico vendo os gatos gordos e felizes passeando do outro lado da rua e fico me perguntando quando chegará o dia em que pingará a minha última gota de paciência.
Baron - Swagger Rich
14/05/2010