LETARGIA
Ela ficou ali parada olhando o nada por horas, estática, consumida pelas suas dores internas e pela sua debilidade de lidar com a rejeição oriunda das pessoas que mais amava.
O vento que ela − tão absorvida em si − não sentia tocando a sua pele, o exterior naquele momento parecia não existir, ficou perdido no vão, e naquela exatidão obscura era apenas ela, e os seus conflitos interiores. Ela não sabia se estava vazia, ela não sabia se estava consumida pela dor, pelo fracasso, pela frustração. Na sua cabeça um pensamento a torturava insistentemente: Nada que havia feito até então estava surtindo efeito. Ela ali estagnada no olho do furacão de suas mazelas, questionou-se o que havia de tão errado nela, que defeito tão profundo ela cultivava que nem mesmo se dava conta.
Pensou tantas coisas, coisas que, na hora faziam sentido, coisas que segundos depois pareciam estúpidas; tomou decisões finais, mas em pouco tempo descobriu que ainda não estava preparada para cumprir com fidelidade e sem que um pedaço do seu coração fundisse diante de seus olhos.
Ela estava só, sozinha num mundo que não era o que ela havia escolhido, sozinha diante do seu fiasco em manter relações, em se fazer entender, ela se via como uma ruína que podia ir e vir, e ninguém a notaria, ou fizesse questão de notar, era imenso o buraco que se fizera sob os seus pés.
Escutara longe uma música tão conhecida por ela, uma música que mais parecia uma oração de lamúrias, uma oração que a acompanhava já havia um tempo, que ela não saberia dizer quanto. A confusão era mais forte, era latente, era progressiva, segundo a segundo. Então diante de um mundo estranho, e irreconhecível ela sentiu as lágrimas rolarem vagarosamente como se também as lágrimas a castigassem se evadindo pouco a pouco. Será alguma lição que não compreendo? Questionara-se ela! Esquadrinhando o chão como se pudesse obter respostas, ela permanecia imóvel, abandonada e vencida, engolindo a vagarosidade das lágrimas caírem, talvez de algum modo aquela flagelação deixassem algo bom, quem sabe a conformidade, quem sabe uma leveza no peito tão dolorido, quem sabe houvesse salvação.
Ali permanentemente ela ficou e sentiu tantas outras coisas, e nada sentiu em outras... Restou-se em desespero, em consumação, ela não soube o que procurava − antes tão certa − hoje tão confusa, tão amargurada, tão ela.