Saramago, divagando sobre sua própria morte.

Eu sou José Saramago, escritor portugues, nasci pobre, não estudei em faculdade, e pela leitura me tornei escritor, mas a fama não me trouxe paz, pelo contrário, nunca pude crer em nada além do homem, nem em Deus, para mim, imagem feita pelo ser humano, com o intuito de se proteger da calamidade natural, do caos incorrigível. A vida fisica não tem objetivo e, vida espiritual é apenas uma ideia que jamais poderá ser comprovada. Nunca tive medo de morrer, pelo menos era o que eu afirmava para quem perguntassem sobre o assunto. Escrevi sobre muitos temas, fiz chacota do nome de Deus, para mim alusão que fazia os religiosos, desejosos de terem um pai perfeito, para terem uma lógica vazia e improvável da sua própria perfeição futura no espírito. Mas agora estou eu cá, preso no espaço, não sei onde estou de fato, nem que lugar pode ser este, sei que vivo, pois não poderia supor um pensamento se vivo não estiuvesse. Todavia não vejo as coisas materiais, aquelas que poderiam me comfimar meu estado concreto de vivente físico, minha vista escura, tenho vagamente a noção de que estou em um espaço vazio, não vejo nem escuto alma viva ao meu lado. Mas um a coisa me faz perceber algo novo inimaginavel, há sim vida após a morte, pelo menos é o que justificaria minha avaliação. Aquilo que me era próprio, a capacidade de mensurar distância permanece, eu posso sentir que meu pensamento se desloca para onde eu queira. Agora mesmo vejo minha mulher chorando a minha falta, havia dito para ela que não devia chorar a minha morte, isso poderia denunciar minha fraqueza, as pessoas poderiam concluir que eu não havia influenciado nem mesmo a minha própria esposa a crer em tudo o que eu não cria.