D.K.

É que todos estavam certos: eles se amavam! Mas estavam tão acostumados a sentir ódio um pelo outro, que mal podiam ver o que todos, há muito tempo, já haviam visto. Talvez só estivéssem tentando se manter ocupados para não perceber o que estava acontecendo com eles. Estavam crescendo, mas tentavam se enganar e se esconder de um sentimento que os assustava, mas que existia. E sabiam que existia. Todos sabiam. Estava tão claro. O modo como se olhavam. O tempo em que perdiam tempo apensas sentados um ao lado do outro, de mãos dadas, acariciando - se, sentindo a presença do outro. A euforia e ansiedade dela quando sabia que o ia encontrar. O modo como ele quase exigia saber onde ela havia passado a tarde toda. As desculpas que ela inventava pra pegar o telefone e ligar pra ele, sabendo que ele estaria lá, esperando, uma, duas, três vezes por dia. O esforço que ele fazia para manter afastados todos os outros garotos da face da terra, e os ciúmes dela sempre que alguma garota fingia esquecer o fato de que eles estavam guardados e se guardando um para o outro. E quantas vezes ela se calou diante da provocação dos amigos ao dizer que ele estava com outra. Mas, no fim, ela nem mostrava se importar, e fingia que não doía. E todos acreditavam. Eles eram somente amigos, irmãos, cúmplices.

É que todos estavam errados: o amor deles não fora feito para ser vivido e ser eterno! Eles bem que tentaram. De uma forma errada, mas tentaram. Mas ela era estúpida por ouvir pessoas que tentaram diminuir os sentimentos deles. Ouviu conselhos errados de pessoas erradas. Devia era ter vivido seus sentimentos, suas vontades. Já era hora do amor entre deles acontecer. Mas ele também errou. Bem menos que ela, claro. Ela o fez inseguro. Ele, na tentativa de se encaixar nos seus critérios ridículos de aceitação, tentou ser uma pessoa que ele não era. Nem combinava com ele. E ela gostava dele como ele era. Só tinha medo de não ser o bastante pra ele. Achava que ele merecia mais. Mesmo sabendo que vê - lo com outra ia ser doloroso. Mas ela sabia fingir que tudo estava bem. Ela sabia fingir muito bem.

É que ela estava certa: ela não era o melhor pra ele! E hoje ele é feliz. E tem alguém. E isso faz seu coração sangrar um pouquinho, mas ninguém vê. Pra ela é fácil fingir que está tudo bem. Ela teve que aprender desde cedo que as coisas são como são. No fundo ela só queria uma nova oportunidade. Mas o tempo não volta, não é?! O que a consola é o que a atormenta: ele tem alguém e é feliz! Ela só pode fingir que está tudo bem. Isso ela faz bem. E ela? Ela é apenas uma lembrança que não chega, sequer, a ser saudade.