Nietzsche

Fui convidado a um gratificante trabalho em São João, aquele da Boa Vista. Aceitei, porém, tendo em vista, a minha vista, tomara eu consiga encontrar o local a tempo do início das minhas atividades. Creio que consiga, pois São João, na bondade da sua Boa Vista, parece guiar os bons, de vista nem tanto. Tenho certeza que ele cuida com carinho de pessoas que batem a cabeça em postes de rua, quando andam, lendo jornais ao mesmo tempo. Duvido que não proteja os incautos, que enfiam seus pés em bueiros, vez por outra, acendem o cigarro do lado errado ou acertam pobres senhoras inocentes, com o braço, quando vão indicar a alguém alguma rua. Penso, até, que ele proteja do ridículo, aqueles que regam plantas de plástico, como também, os que se batem em portas de vidro fechadas das lojas locais, atravessam a rua sem olhar e confundem tampas de garrafa, no chão, com moedas.

Vá a São João, meu caro. Eu fui e vale a pena. Lá, você pode olhar o abismo de perto e, até, deixar que ele o veja. Abismos, em São João? Coitados, estão desmoralizados. Turistas os usam, com poses, para fotos. Tai um lugar onde Nietzsche, talvez, fosse feliz.

Dassault Breguet
Enviado por Dassault Breguet em 02/11/2010
Reeditado em 02/11/2010
Código do texto: T2592441