Impulso
…Ai chega o dia que você acorda, se espreguiça, olha pela janela e tá chovendo.
Você percebe que algo não é mais a mesma coisa. Os gostos não são os mesmos, as músicas não são as mesmas, as vontades não são mais as mesmas. Nem a chuva parece igual, cada gota parece cair por razões completamente diferentes, e molham tudo que tocam como se quisessem se apegar a algo no fim da queda. E você nem sabe de onde elas começaram a cair.
Você sai de casa porque tem que sair, está no seu sangue. Assim como o medo de temer, assim como a necessidade da conquista. Na rua, abre o guarda chuva, igual a todas as vidas que caminham ao seu redor, mas nunca ao seu lado. Segue pelo mesmo caminho, mas tem algo diferente, algo mudou. A chuva parece mais atraente, e se foi o medo de molhar-se.
Tudo parece um momento só. Os olhos se fecham, as palavras somem. Um suspiro, e a calma. As razões se perdem, explicações se fazem desnecessárias. A conquista agora é só sua.
Você fecha o guarda-chuva.
Braços abertos, como se quisesse abraçar todas as causas perdidas. Afinal, de causas perdidas você entende. É delas que a maioria dos seus sorrisos são feitos. Inclusive esse agora no seu rosto. A felicidade parece pulsar um pouco mais forte, mesmo abalada, porém viva. E, caso morta, ao menos se aprendeu a morrer. Foi-se o medo, foi-se a dor. Mas não foi-se a chuva.
Os passos seguem. Molhado, como se estivesse se marcando. agora, a chuva não doi mais. Nunca mais.