A inveja do realizar
Seus pensamentos troteavam por dentre campos de ilusões, buscando o rapaz que montaria seu cavalo alado pela quimera. Torcendo para que estivesse a esperando de mente aberta, o que seria o portão de entrada à sua vida.
Olhos fixos na estrala celeste, buscando entender o motivo da distância, o motivo da separação; separação mundana, mortal...e letal. Distância essa que mantém corpos separados, amores terminados, batimentos apertados, por estarem presos e cerrados às largas e grossas correntes da decisão e da dura realidade, completadas pelas algemas das circunstâncias.
A menina inveja; inveja aqueles que tem a alegria de acertar, e entender a vida que os rodeia, sorrindo melosamente a cada desafio que há em sua frente. Sorrir por saber que do outro lado do muro o sol brilha ofuscando todos os maus pensamentos, convidando-os a continuar pelo caminho iluminado.
Ainda invejando, afoga-se em meio ao manto da quietude da dúvida, a pequena encontra-se desiludida pela solidão noturna. Sem luar, e sem o olhar que a guiava, fica ali, no estático negrume do quarto. Buscando naquela estrela, onde habita a razão da existência, o conforto que não encontra em suas cobertas. O conforto que apenas se revela em sonhos. Sonhos esses de deixar de invejar a arte do realizar, realizar a vontade de ter quem ama próximo, e sem ter que chorar.
Torna a fechar os olhos, e galopar cegamente em sonhos, tornando a buscar pelo rapaz, também nomeado pela menina de destino final, ou apenas, vontade carnal. Ela sonha, ele também, e o realizar, fica apenas em devaneios, que vem com a mansa noite, que traz de volta a escuridão rotineira.
Em meio a escuridão, ela pega seu pequeno violão, e cantarolando ora para que seu Deus a escute, e faça com que sua canção se torne sua realidade, mesmo que distante.
E é assim, em meio a noites, devaneios, e caminhadas a alazões alados, que a pequena caminha por dentre a vida, torcendo para que consiga realizar seu sonho de realizar seus devaneios.