Somente Amor

Posso dizer com toda convicção adquirida por meus dias bem vividos, é que desta vida a única coisa que verdadeiramente importa é o amor, com ele tudo se suporta, se supera e se transforma. Pois o que somos quando já não mais existirmos, do que um amontoado de lembranças de quem nos amou?

Tenho essa certeza cravada em meu coração pelos dias de luta travados contra um câncer que levou minha filha de cinco anos me deixando com os braços vazios, mas a mente cheia de lembranças doces do amor mais lindo que vivi, já não vivo mas sobrevivo, alimentada pela saudade de um tempo onde tudo que eu era se fundia com o que ela era, e dando o meu melhor recebia tanto amor, e conseguia falar de coisas que nem mesmo eu sabia que acreditava, descobri uma fé que não sabia que tinha, uma força que não sabia que existia em mim.

Foram anos difíceis, na verdade cinco anos e alguns dias, ela nasceu com a doença e conviveu com ela toda sua existência, mas sua mente compensava seu corpinho frágil, um espírito elevado capaz de espantar, encantar e até consolar muitos que a conheciam com suas tiradas geniais, como quando estávamos num taxi e o taxista muito penalizado pela aparência dela e pela aparente tragédia em nossa vida agradeceu a Deus pela vida que tinha e teve uma expressiva pena de nós, ela então interrompeu o taxista o deixando de boca aberta, ela disse: “mas mãe o que importa é que a gente se ama né mãe, e que a gente é feliz”, isso é o que eu sempre dizia à ela nas horas difíceis, quando ela se questionava de não poder fazer coisas que outras crianças faziam e eu dizia que nós é que éramos felizes porque tínhamos uma a outra e o nosso amor era tudo que importava, que eu era muito feliz por tela como filha, se para os outros não éramos normais e nos olhavam como bicho estranho na rua é porque eram ignorantes, pois ignoravam nossa vida, nossa luta, nossa garra, nossa fé e nosso amor.

Parece coisa de mãe coruja, é também pois me orgulho muito dela e do que somos uma pra outra, somos pois pra mim ela ainda é inspiração, mas acima de tudo é o relato de alguém que conheceu de perto a porta do céu, é como chamo o ambulatório onde fazíamos os medicamentos e onde convivi com tantos anjos que assim como minha filha passaram por lá, deixaram sua marca e partiram. São tantas mães que como eu estão hoje sem seus filhos, algumas perdidas na dor tentaram suicídio, outras estão em tratamento psicológico por depressão, outras psicosomatizaram toda dor em uma doença própria, acho que na verdade quando eles partem queremos partir também. É a ordem biológica da vida perder os pais, mas é incoerente ao coração perder um filho.

Quem não é capaz de entender o amor não suporta nenhuma dor, parece rima de ensino fundamental mas é verdade, quem é capaz de amar sempre que passar pelo sofrimento terá forças para superá-lo, porque faz parte do aprendizado da vida e sempre vale apena viver um grande amor.

Hoje tenho um grande objetivo, honrar tudo que ensinei, tudo que disse a ela pra dar força e coragem pra passar pelas dificuldades uso comigo, e quando penso assim imagino ela me dando altas broncas por não estar me esforçando, devo isso a ela, geralmente os filhos são o futuro dos pais, o reflexo de tudo que foram em suas vidas, comigo é um espelho reverso, eu sou o reflexo dela, ela me deixou marcas que me sinto na obrigação de espalhar, compartilhando a quem interessar.

Discordo de quem diz que não somos imortais, concluo que não morremos mas sim transcendemos à imortalidade através do amor, posto que o amor não morre, permanece vivo ecoando no infinito.

Bê Duarte
Enviado por Bê Duarte em 24/10/2010
Código do texto: T2574997
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