Amor Shakespeariano
Ir adiante é tolice
Quando se sabe que o caminho
Termina em tenebroso despenhadeiro...
Conheço o final dessa peça e suas seqüelas
O modo melancólico com o qual tudo se aniquila
E a doce ilusão que vai deixando de ser afável...
Um mais um é dois
O gelo se rende ao poderio solar
Todo ano tem doze meses
O que é óbvio
Não se transforma em aparente
E não existe salvação
Para nosso amor de Romeu e Julieta...
Não por ser Capuleto sua austera família
A renegar veemente suas escolhas
Mas um lado intransigente e tenaz
Da personalidade de uma Julieta indócil...
E Montecchio é de mim toda a sombra
Cruel e irascível
Que junto com a sua
Trará ruína a nossa paixão...
Por isso, não demora muito,
Morreremos de raiva
Muito mais do que de amor...
Venenos letais serão trocados
Injetados nas veias da nossa ternura
Que sucumbirá intoxicada
Para que se ratifique o final do ato
E nada de bom ressuscitará dentre os mortos...
Se assim é
Não seria sensato um adeus agora
Bem antes do último suspiro?
A resposta é negativa
Pois ainda é cedo
Para se ter e acreditar em tanta lucidez
E foi somente nossa primeira rusga
Com direito a vislumbre do porvir
E porque somos ingênuos
Até o derradeiro dia de nossas vidas
Lutaremos para mudar script e destino
Mesmo que seja em vão
Afinal, é difícil dar as costas e sair vivo
Enquanto os corações se querem tanto...