Paliativismo Platônico
T.F, 18, tem problemas com mulheres. Sim, T. é do sexo masculino. Seu problema com o sexo oposto é olhar as fêmeas com lascívia em tempo integral. É uma mulher que determina qual vagão do trem ele vai entrar. Nas escadas rolantes, ele adora olhar o banquete que movimento dos quadris proporcionam para suas ilusões taradas. Seu ouvido é atento: o barulho de um bico de salto alto contra o chão já o faz procurar de onde vem o som. E o som sempre vem acompanhado de um belo par de pernas e de uma bunda arrebitada. T., fala de sexo de forma despudorada e, para alguns, até vulgar. Se diz uma pessoa de mente aberta, que os tabus quando o assunto é sexo devem ser execrados para sempre. E seu sonho é fazer um ménage à trois.
Já R.S, 23, optou por manter uma atitude mais comedida. Prefere não ceder aos chamados que os corpos femininos emitem com a mesma virulência de T.F; pensa que sendo mais asceta, calmo, aparecerá uma pessoa que preencherá todos os requisitos que ele capturaria se olhasse para todas as mulheres; todos reunidos numa só mulher. Mas enquanto tal milagre não acontece, ele vai vivendo, conhecendo garotas interessantes, inteligentes, ou de parca massa encefálica e enfadonhas. Romântico por natureza, idealiza a sua mil-facetas-em-uma todas as noites - é a única coisa que preenche o vazio que as despedidas com as outras garotas deixam nele.
P.A, 21, tem na misantropia sua melhor companhia. Sua palpável alma gêmea. Observa as pessoas abrindo mão de seus sonhos por conta de uma outra. Observa-as sendo humilhadas pelo desmoronamento dos castelos que construiram dentro de si mesmas pelo descaso de outro ser humano que foi eleito como a Representação do Amor Puro. P., cético, afirma que deve-se, em primeiro e irrefutável lugar, amar a si próprio, ser uma criatura emocionalmente forte e auto-suficiente e só depois, bem depois, devotar parte - a parte mais doce possível - desse amor à outra pessoa. P., sente-se completo, forte, mas não encontra - mesmo por que não procura com a avidez das pessoas ditas como normais - alguém que seja merecedor de tal derrame de sentimentos.
T.F., R.S. e P.A., convivem diariamente, às vezes em harmonia, às vezes em total desavença, por conta das divergências de ideologias. Tem vez que um nem nota a presença do outro; às vezes o local onde eles se encontram está vazio. Mas, na maior parte do tempo, eles discutem de forma carnicenta qual é o ponto de vista "menos pior".
São uns estúpidos. Uns verdadeiros estúpidos; são como coelhinhos de chocolate que são vendidos em lindos embrulhos na época da Páscoa e são ocos, tem gosto horrível e é quase certo que darão revertérios após o consumo.
T.F., R.S. e P.A. vivem dentro de mim. Recomendo que você fique longe deles enquanto há tempo. Os resultados sempre são extremos: ou você vira paixão fulminante, ou... Turn the page!
Garage Fuzz - The Morning Walk