Dor do não viver

A saudade tem dois lados. A melancolia gestada na ausência do ser querido que se tornou inalcançável. A alegria das coisas boas que deixaram um sabor revigorante. Só sente saudade quem tem belas lembranças, é o que me diriam.

As memórias que me enchem os olhos d'água são de um outro tipo. Doem e ferem, porque não foram vividas. Vejo as fotos das pessoas queridas e meu rosto não está naqueles retratos. Fui amputada daqueles dias especiais, festas imperdíveis, viagens históricas. Eu não estava lá.

Para este tipo de saudade não há remédio. Não há porque se alegrar. Não há a o que se apegar. Apertam-me o peito os relatos, cortam-me a carne as sorrisos jovens. Porque eu não vivi.