Solitude Inerente ao Meu Bem-Estar

O lance complicado é que isso de querer ficar isolado dentro de um casulo só me tira cada vez mais da realidade e me joga no abismo e, cara, é disso que eu mais ando gostando. É que nem o Velho fala: não sou esnobe. É que não tenho interesse no que as pessoas fazem para ocupar seu tempo. E principalmente no que elas querem fazer pra ocupar o MEU tempo. Eu vejo pouca criatividade e raízes de outros onde uns juram ser suas próprias ramificações. Vejo olhares de posse dardejados em direção a algo que não pode ser possuído. Leio coisas que falam e falam e correm de cumprir cumprir. Pessoas suscitam coisas sobre outras pessoas e, essas últimas, nem tem noção dos disparetes que são vitimadas por uma cambada de alcoviteiros que não tem nada melhor pra fazer do que destilar o veneno que é o néctar de uma alma podre, vazia, escura e inóspita para as janelas amplas do mundo. E no meio disso tudo, eu, exercendo a minha função para que todas as engrenagens da palhaçada continuem girando. Caralho, já falei disso antes outras mil vezes, mas falo de novo: é pedir muito ficar um mês deitado por vontade própria? Não quero um acidente pra ficar deitado e depois ficar falando "oh, não era isso que eu queria quando falava que queria ficar deitado". É modo de falar. Quero olhar pra cara de quem eu quiser, falar com quem eu quiser, atender quem eu quiser. Mas sem soar como o cretino que eu pareço soar - e quem vai entender os turbilhões que passam na minha cabeça e compreender a necessidade que sinto de ficar QUIETO sem ninguém FALANDO ou PERGUNTANDO ou AFIRMANDO ou me VIGIANDO ou me COBRANDO COISAS ou SUSCITANDO coisas sobre mim? Ninguém, só eu mesmo - talvez quem me lê. Quem vai entender que quando o dia vai ruindo aos poucos o que me acalenta é o pensamento de chegar em casa e deitar ou fazer o que eu quiser? Hoje a chuva adiou os compromissos, atrasou os compromissos e me colocou de frente à esta garrafinha verde que tanto me encanta - não pelo gosto, mas sim pela sua estética. E pensei comigo: por que não me dar ao luxo de um pequeno excentricismo numa quinta-feira chuvosa onde a vida faz tanto sentido como fez ontem ou fará amanhã; quando a vida, por enquanto, é só uma sucessão de dias mecânicos e onerosos onde o único retorno que parece que tenho é pus para um futuro câncer e uma lesão no pulso de tanto responder analfabetos? Ah, vá! Não sei se Deus existe, e se existe, também sou sua criação e mereço um pouquinho de paz, não é mesmo? Mas se Deus existe, é provável que o Diabo também exista. E se o Diabo existe, ele faz questão de colocar lides passadas e fora de contexto no meu caminho e gente berrando no meu portão pra me incomodar. Bom, sei lá do que eu tô falando já. Agora é só pular a odiosa sexta-feira e será sábado, o dia de andar de skate e escrever e viver um pouco o que meu coração quer.

Lobão - Quente

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Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 08/10/2010
Código do texto: T2544110
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