Desilusão amorosa



Desilusão amorosa
 
Desilusão amorosa! Ilusão amorosa! Como?
 
A vida nos faz depositar em algumas pessoas, e acho ser uma atitude natural, não necessariamente ideal, algum nível de esperança.
 
Estou longe de ser criança e minha juventude também já passa ao largo. Hoje, estimo como uma característica minha, abrir mão de toda e qualquer esperança, seja ela em que nível for. Mas sei que por muito tempo fui um dos muitos que viam a esperança como uma virtude, daquela que acreditava eu ser capaz de nos manter no rumo.
 
Hoje vejo a esperança como uma fonte natural de sofrimento. Se nunca consigo atingir o que espero, me frustro pela impossibilidade, e na maioria das vezes não tenho a menor ação ou coordenação pelos fatos que poderiam permitir atingir meu alvo esperançoso. Outras vezes, quando atinjo o alvo da esperança, me frustro também, pois descubro que no fundo a vida não muda, minha felicidade apesar de temporariamente elevada por ter podido alcançar o esperado, tende a minguar rapidamente, posto que não fico mais feliz por tê-lo conseguido.
 
Assim, hoje, busco como deveria ser, mas sem nenhuma esperança de que seja atingido, ou que ao atingir o que busco, meu estado de espírito mental poderá, a partir deste momento, passar a ser coberto de felicidade.
 
A felicidade é arredia, e talvez nunca a encontremos enquanto a procuremos. Talvez apenas a encontremos quando não mais a procurarmos, quando não mais tivermos esperanças de que ela possa ser atingida por este ou por quaisquer outros eventos pontuais ou seqüenciais.
 
Mas retornando ao AMOR, ele não deveria ser estruturado sobre qualquer esperança, ou sobre qualquer ilusão de que aquele relacionamento em especial seja capaz de nos prover felicidade, bons sentimentos, ou outro qualquer nível de esperança.
 
Eu sei, quanto mais jovens formos, mais difícil é separar o sentido de amor a parceira(o) da paixão, ou da crença que com ela(e) estaremos mais próximos de nossa felicidade. Eu mesmo já sofri também por desilusão amorosa. Hoje entendo o AMOR (ou me engano acreditando ter alcançado algum conhecimento sobre ele), como um estado de espírito a ser construído, a ser labutado em responsabilidade e em afeto, em ternura e em carinho, mas sempre envoltos em respeito mútuo, temperado por lealdade, parceria, compromisso e comprometimento.
 
A paixão é um sentimento arrebatador, envolvente, forte e que nos faz parecer ser dependentes de nossa parceira(o). O Amor não é assim. Por isso, onde realmente existir amor, não haverá desilusão, posto que não estaremos trocando amor por algum relacionamento perfeito. Único, talvez, uma vez que vivido realmente em intensidade, mas jamais posto a serviço da espera de algo. Amo por que eu quero, porque assim escolhi. Na separação posso até ficar triste, não pelo desespero, ou pela desilusão, mas sim por saudades e lembranças do que era, mas já não sendo, devo continuar minha caminhada.
 
Creio eu que nossa mente favorece a paixão, posto que ela nos move para o sexo, e este para a reprodução e assim para a preservação de nossa espécie. Não só nossos circuitos neurais, porém também uma enxurrada de hormônios nos fazem ser arrebatados por este amor paixão. Ele é muito prazeroso, ele é muito gratificante enquanto existir, mas ele é traiçoeiro e perverso, posto que pela força da paixão nos perdemos em nosso equilíbrio e podemos ser arrastados para um mundo de total descontrole apaixonadamente envolvente.
 
Assim, ao contrário, mesmo que sendo mais suave em sua experiência, o amor cresce em força e mantém nosso eu sobre controle, mesmo que parcial, posto que para a grande maioria de nós, talvez nunca experimentemos o amor em sua essência máxima, assim sempre haverá alguma participação da paixão, quando o assunto é parceira(o).


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 04/10/2010
Código do texto: T2537677
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