O sistema, o cara e o poste.

Quando muitos problemas parecem indicar que a questão é bem mais social do que se imaginava, caímos no conflito de ter que culpar um sistema de vida, capitalista ou não, que tão cedo não mudará na sua essência.

Impunidade, miséria, falta de cidadania e direitos humanos básicos são alguns desses fatores e como qualquer síndrome, biológica ou não, qualquer um deles atacado com decisão iria reduzir a gravidade do problema. Há muitos anos, trabalhei num local em São Paulo que punia severamente quem faltasse um dia sequer no trabalho. Em função disso, um amigo que havia perdido o dia tentava se justificar com o patrão.

"Mas eu não podia vir. Não podia deixar aquele cara morrendo encostado no poste", disse meu amigo.

Segundo ouvi, o rapaz havia sido severamente agredido e meu amigo passou horas ajudando-o.

"Mas você não percebe que não vai mudar o sistema, ajudando caras encostados em postes?", indagou meu patrão.

"Mas não era o sistema que estava encostado no poste e sim o cara". Disse meu colega.

Sempre lembro desse diálogo, quando tenho a tentação de arrumar "bodes expiatórios" para culpar por tudo aquilo que, covardemente, eu não queira me arriscar a mudar.