Brisinha 13 (Confissão)
Sabe, eu costumo me ferir. É, machucar, mesmo. Se sangra? Às vezes sangra e todo mundo vê. Às vezes, não. Me recupero, sim. Mas as marcas ficam. Já cheguei a arrancar pedaços de mim mesmo. Na unha. Que eu quase não tenho, de tanto roer. Desde sempre eu acho; desde que comecei a entender o certo e o errado, comecei com esse lance de me machucar. Já cansei, mas não paro, não. É vício.
'Tá vendo essa marca aqui? Dentada. Era pra morder a língua mas eu tive medo de morder fundo de mais, aí mordi o braço mesmo. Eu ando meio mancando, meio curvado, já reparou? Mas não é de me machucar, isso aí, não. Isso é de tanto carregar peso. De quê? De culpa, ué. Culpa de me machucar tanto. Como eu faço? O quê? Pra me livrar da culpa?! Ah! Me machuco.
Patético? É, talvez. Mas pelo menos eu não machuco os outros; eu acho. Defesa própria; a gente vai se fechando, como um tatu-bola. Aqueles que a gente coloca no pé quando é criança, pra sentir cósquinha. Nos olhos? Eu tentei fechar à força. É, mas não deu muito certo, não.
Se eu vou parar? Não sei. Já se ofereceram pra carregar a culpa comigo. Mas eu sou esgoísta, sabe? Prefiro ficar com tudo pra mim. A dor é minha, a vergonha, a culpa, as feridas; tudo meu. Um dia eu largo em algum canto por aí e vou cuidar das minhas chagas. Até lá, vou me ferindo pra aliviar a culpa de tanta vergonha que eu passo por sofrer tanto por minhas próprias mãos.
William G. Sampaio [30/09/10]
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Agradeço a todos os que me acompanham, ou ao menos já passaram por aqui, ao longo desses cem textos postados. Perdoem-me os que saíram fracos, obrigado por todas as críticas, elogios e sugestões, e obrigado pelo carinho com o qual me acolhem vocês todos. Perdoem-me por postar algo tão triste como centésimo texto, mas eu gosto de ser transparente em tudo, e esta foi uma maneira de me aproximar mais de cada um de vocês.
Abraço forte.