O semáforo
O semáforo ficou verde, mas não há para onde atravessar, motivo para se apressar ou para aguardar...
A música lenta e leve que chega aos meus ouvidos contrasta com a rapidez e densidade dos meus pensamentos.
Sinto-me suspenso sobre o tempo, diante da névoa que é essa multidão, decidindo se caio da desgraça ou sigo na tentação.
Um pensamento disperso, passado, alocado em algum lugar remoto da memória resolve emergir no momento errado atrapalhando o tráfego.
Um sentimento apagado, taxativo mal alocado neste então presente coração resolve surgir no momento certo de atrapalhar o pensamento.
A surpresa de descobrir uma velha lembrança. O prazer de lembrar seu medo. O medo de esquecer seus prazeres. Enquanto surpreso, descobre que está sendo iluminado pelo sinal amarelo.
Às vezes se lembrar de um pedaço de você mesmo te faz esquecer um pedaço do mundo, mesmo que esse pedaço seja outra pessoa ou outro mundo.
Não há como explicar em simples palavras a complexidade de um pensamento, principalmente enquanto o semáforo, indicando o vermelho, lhe encara como te questionando por que não atravessou.
Mesmo assim foi bom ter pensado em você...
Lembrado de você...
Sentido você...