Os brinquedos do Homem

Entendo que Barthes temesse a substituição. Como cidadão do meu tempo, percebo que a substituição é algo que parece acontecer, mas nunca em totalidade. Em algum lugar, talvez pela própria desigualdade, pela diferença tecnológica das áreas do globo, mas não só por isso, já que as práticas ocorrem também em classes ditas altas, não por alguma natividade, por fetichismo, alguém ainda dá voz às antigas formas, comunicando outras mensagens que não as em voga.

É preciso preservá-las. Sim, é claro. A boneca de pano sempre terá uma mensagem sua a contar às crianças, um mundo próprio de textura, de cores e detalhes. Igualmente acontece com o videogame, que agora dispensa controles, funciona com um sensor que garante exige os movimentos do jogador para o desempenho exato da ação no game. Já tem programa de emagrecimento em videogame, para as mães que antes apontavam o aparelho como uma coisa de criança, ou inútil. Agora você paga e pode transformar a sala da sua casa numa aula de aeróbica, usando o mesmo aparelho onde seu marido vê filmes chatos e seu filho joga futebol. E inclusive com acesso a internet, o que possibilita interações virtuais significativas.

Não temos de ter medo da tecnologia. Você gosta da tradicional partida de futebol no campinho, e fica pau da vida com as partidas de futebol na frente do playstation? Pare de reclamar e procure seus amigos, faça times, organize um campeonato de futebol no seu bairro. Junte dois reais de cada um e compre um troféu pro time vencedor. Não adianta reclamar do fim, você tem de se tornar o agente da conservação, assim como quem quer mudar se torna o agente da mudança. Ambos são agentes da transformação.

Um brinquedo de madeira, diz Barthes, tem sua vitória sobre o metal, por sua vez, frio. Não sei, não gosto de pensar na frieza do metal como um desabono. É uma diferença. Preservemos a arte na madeira, mas não dispensemos a chapa quente. Qualquer tipo de restrição é nociva, neste aspecto. Não se pode eleger melhor e pior, tem de se saber que devem existir agentes de conservação e transformação, pessoas que se dedicam a preservar costumes, e outras, que buscam ampliar os horizontes com a ruptura, a mistura na alquimia do sonho.

Avati
Enviado por Avati em 29/09/2010
Código do texto: T2526838
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