DA POESIA 2

O sujeito com o mínimo de informação teórico-literária sabe (pelo menos deveria) que o verdadeiro Poema instaura um “dizer inaugural”. De modo que um texto poético nada tem a ver com idiossincrasias sentimentais. Francamente, isso não vai além de mera catarse. Poesia para valer exige, sim, trabalho “lírico formal”; do contrário, vomitam-se apenas sentimentos. Por acaso existe expressão artística reconhecida fora de um domínio consciente e crítico de recursos lingüísticos, técnicos e estéticos? Estou com Leda Miranda Huhne que, em seu recém lançado “Curso de Estética”, esclarece: “a expressão da obra é produto de força técnica que faz com que a emoção chegue à forma através de imagem-síntese que se expressa em metáforas e metonímias”. Imagino não precisar chamar a atenção para o fato de que nenhum “Manifesto Literário” prega a ausência da técnica; o que de fato ocorre é uma total aversão à rigidez. Volto a Huhne para com ela concluir: “No clima de anti-arte em que vivemos, muitos alegam que basta ter jeito, gostar de arte, e ter idéias para manifestá-las sem precisar de domínio técnico ou talento”. Isso, amigo, é a mais pura tolice.