Em primeira pessoa

Certa vez, me identifiquei com uma citação da Clarice Lispector que falava sobre guardar mágoas. Acatei isso como uma característica minha, ficar remoendo sentimentos antigos dentro de mim. E confesso que isso me envenena lentamente e que tenho plena consciência disso. Às vezes a minha vontade de que as coisas melhorem e que meu inferno pessoal termine, faz com que eu sufoque todas essas mágoas, o que significa não que eu as esqueça mas que eu simplesmente não as lembre.

Passado algum tempo uma avalanche de acontecimentos me derruba e traz à tona todas as dores escondidas cuidadosamente. Meu peito incha de dor enviando o sinal de que o remorso está de volta. Ele é cruel e esmagador. Me mutila e se alegra com seu estrago.

É um processo lento e doloroso até que eu consiga sufocá-lo novamente e me sentir liberta de seu domínio. Não que eu realmente me livre dele, apenas tento não lembrar de sua presença.

"E a esperança?" - Em algum momento alguém me perguntou. Bom, ela parece frágil perante as mágoas que guardo. A Esperança parece-me uma bobinha, com uma Insistência tola. Queria que ela já tivesse desistido de mim, mas por algum motivo ainda não o fez.

KarlaKas

Karla kas
Enviado por Karla kas em 28/09/2010
Reeditado em 15/09/2011
Código do texto: T2525275