Os Falsários
Esses dias assisti um filme que me comoveu e também me perturbou bastante.
O filme, uma produção europeia cujo nome original era “The Counterfeiters”, conta a historia de um judeu: Solomon Sorowitsch, conhecido como um dos mais extraordinários falsários de sua época.
Mas ele é capturado e levado a um campo de concentração, junto de outros prisioneiros judeus que também possuíam esta mesma “habilidade”. Ali são obrigados a colaborar com os nazistas em uma organizada operação de falsificação de dinheiro, criada para financiar a máquina de guerra alemã.
Trata-se da “operação bemhard”, a maior falsificação de dinheiro de todos os tempos.
Mas isto os coloca dentro de um grande dilema: cooperar com os inimigos e sobreviver, mesmo sabendo que com sua colaboração muitos do seu próprio povo estavam sendo perseguidos e mortos nos campos de concentração, ou se recusar e ser fuzilado.
Eles aceitaram trabalhar em troca de uma refeição melhor, uma cama
com colchão e banheiro com água. Os que se esforçavam mais ainda eram recompensados com jantares na casa do general que supervisionava a prisão, e ganhavam cigarros e bebidas.
Mesmo sabendo que estes benefícios eram temporários, alguns por medo e outros pela aparente vantagem, continuavam falsificando o dinheiro que financiava a morte de seus amigos e parentes, e a destruição do seu próprio povo.
Os que apresentavam uma certa resistência, ou algum tipo de enfermidade, eram logo executados para não contaminarem os outros.
A reviravolta ocorre quando eles estão bem perto de realizarem sua maior obra de arte, a falsificação do dólar americano, e se isto tivesse ocorrido, os rumos da guerra talvez tivessem sido outros.
O exército russo invade o campo de concentração, e liberta todos os prisioneiros. Enquanto caminham para fora da prisão, eles podem então observar o que ocorria além dos muros que separavam os seus alojamentos dos alojamentos dos outros prisioneiros. E o que eles enxergam, os fazem refletir sobre o que suas colaborações tinham resultado.
Multidões em pele e osso caminhavam com esforço para tentar sair daquele lugar. Muitos de tão fracos morriam pelo caminho. Pilhas e pilhas de cadáveres de homens, mulheres, velhos e crianças apodreciam ao lado de valas comuns. Fornos exalavam cheiro de carne queimada. Mortos eram retirados das câmaras de gás, para onde as vítimas se encaminhavam pensando que iriam tomar um simples banho.
Ao verem tal realidade, alguns destes colaboradores, corroídos pelo remorso, suicidam-se, outros ficam loucos por saberem que a recompensa da sua covardia foram milhões de vidas ceifadas.
Então me pus a imaginar a respeito de tantos falsários do Evangelho
que tenho visto por aí, gente sem escrúpulos, que em troca de uma aparente vantagem, em troca de algum benefício, em busca de lucro, poder e fama não titubeiam em enganar, mentir, defraudar e roubar os outros. Só para usufruir por um breve período de tempo os benefícios de seus próprios sofismas.
Passam a vida só se importando consigo mesmos, não se interessam em saber o que se passa do outro lado dos muros. Se esquecem que somos todos prisioneiros no mesmo campo de concentração chamado pecado.
Não se importam com o sofrimento e a destruição do próximo, desde que haja “vantagens” como alojamentos melhores (mansões), refeições melhores (banquetes), camas melhores (todo tipo de conforto), banheiros limpos (tudo que é supérfluo). Acham que se empenharem mais, poderão jantar na casa do general (adoram estar ao lado do poder) e serem regalados com cigarros e bebidas (tudo que o mundo pode oferecer).
Verdade é que estão se banqueteando na mesa de demônios.
E quando o exército dos céus romperem os muros de separação desta existência, então poderão ver o tamanho do estrago que suas vaidades e ganâncias produziram sobre a terra.
Quanta gente sem vida, morta e mutilada, gente condenada, gente com cicatrizes que jamais se curaram, gente perdida sem rumo, gente que se levantará para ser testemunha contra estes, que usaram de um falso Evangelho para promoverem seus egos e caprichos.
Só digo que aí será tarde, não haverá tempo de se arrepender. Quando todos tiverem que comparecer diante do supremo tribunal e nos corredores deste fórum, terão que olhar nos olhos de todos aqueles que poderiam ter sido salvos se tivessem optado pela verdade, mesmo que isso custasse suas próprias vidas.
Pois só a verdade liberta, nada mais neste mundo tem o poder de quebrar grilhões e derrubar portões.
Moisés preferiu sofrer com seu povo a usufruir dos benefícios do Egito. Quantos estão dispostos a sofrer pelo povo, sem que isto lhes traga algum benefício?
Mesmo o melhor falsário pode enganar muita gente, mas jamais conseguirá enganar a si mesmo.
"Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade" (II Coríntios 4:2).
Alexandre barbado