AMOR
Amor sentimento e amor 
 
O Amor é um sentimento muito simples, que de tão simples se torna imensamente complexo frente a nossa irracional racionalidade, ou melhor, se torna complexo frente a nossos conceitos preconceituosos, neste caso, a crença de que amar seja algo meramente sentimental, ou que amar é algo meramente natural ou transcendental, ou que amar é algo meramente hormonal ou devido a neurotransmissores específicos. O Amor, como tudo o que somos, sentimos ou vivenciamos reflete algum estado neuronal ativo. Somos o que nosso cérebro representa. Com o Amor não é diferente, por isso ele necessita ser construído, desconstruindo-se nossas falaciosas representações ou abdicando de nossas românticas visões de que basta amar. Não, não basta simplesmente acreditarmos que amamos, necessitamos conscientemente não só senti-lo, mas construí-lo e fortalecê-lo.
 
O Amor é muito mais que tudo isso, talvez tenha até um pouco de tudo, mas o importante é que o amor, em essência, é para mim, um momento de lúcida decisão e construção, um momento de desconstrução de nossos paradigmas e de nossos princípios, na reconstrução de um novo estado mental, aberto, livre, sincero, ético e verdadeiro. 

Para mim o Amor não existe simplesmente como um atributo nato, ou algum sentimento romântico, mas sim como uma propriedade possível de ser seriamente construída. O paradoxal é que o amor será sempre um sentimento individual, posto que reflexo de nosso estado mental. Ele, por mais que o acreditemos universal, existirá somente dentro de nós mesmos. Ele é individual no sentido que ninguém pode nos dar ou emprestar seu amor, para que eu o utilize como meu amor. Ele será sempre uma ação, um comportamento, uma atitude racionalmente íntima a cada um. 

É óbvio que o amor, quando retribuído se torna muito mais gostoso, posto que em ação de feedback positivo, se auto alimenta e regenera nossos momentos de fraquezas, que como humanos somos passíveis...

O amor é lindo e confortante, quando o descobrimos através de sua construção. Jamais o descobriremos apenas pela simples procura, ou por qualquer ação externa, por mais bem-intencionada que esta seja. Não adianta buscá-lo, procurá-lo ou cassá-lo, quer seja em nós mesmos, ou nos outros, ou em qualquer entidade sobrenatural. 

O amor somente será descoberto quando construído, tijolo a tijolo por nós, em nós, dentro de nós, e através de nós mesmos. O amor jamais será construído pelos outros, ou construído nos outros. Ele é um evento internalizado, e por isso solitário, no sentido de sermos somente nós mesmos que viveremos o nosso amor. Os outros poderão se deliciar com nosso amor, mas jamais viverão o nosso amor. Os outros poderão se utilizar de nosso amor como exemplo, mas jamais construirão o nosso amor, ou construirão o amor deles somente com o nosso amor. Eles necessitam ter a mesma coragem e decisão que nos levou a construir o nosso amor. Eles podem sim compartilhar do nosso amor, mas a essência de nosso Amor será somente nossa, eles no máximo usufruirão das boas coisas que o nosso amor poderá espalhar.
 
Para falar do amor, ousaria dividi-lo em alguns escopos, todos com a mesma palavra, mas cada um deles com diferentes relações mentais e humanas.

Provavelmente outros amigos e leitores terão outra interpretação, ou terão outras divisões. Não tenho a intenção de cobrir todo e qualquer sentido da palavra e do sentimento de AMOR, e muito menos acredito que seja a única forma de interpretar este belo, simples, porem multifacetado sentido, sentimento ou comportamento.

Assim dividirei, apenas por facilidade minha, em:
-·Amor família
-·Amor relacionamento sincero entre pai e mãe, homem mulher, ou mesmo por mais ofensivo que possa parecer aos mais tradicionais, conservadores ou fundamentalistas, o amor entre homem e homem ou o amor entre mulher e mulher.
-·Amor Amizade
-·Amor universal (com o risco que este termo pode levar a parecer que estou comentando um amor que a natureza já previamente determinou, e que nos basta descobri-lo). Universal no sentido de não haver distância física que o limite ou que o diminua. Universal no sentido de não se limitar aos nossos, ou a nossa raça, credo, princípios ou nacionalidade. Universal por ser democrático, livre, e público, não havendo restrição para seu alcance ou sua atuação.

Amor Família
 (amor genético) Pais, filhos, netos etc..
Iniciarei pelo amor família, de todos, o que pode parecer mais frio, o mais mecânico, mas nem por isso menos sincero, natural, ou verdadeiro. A natureza nos municiou com a força de amarmos nossos semelhantes em carga genética. Pode parecer sujeira, mas a evolução, buscando nos dar a luta pela sobrevivência de nossa espécie, nos fez amar naturalmente (se existe um amor natural, este é o único deles) nossa linha de descendência. Amamos nossos filhos, ou pelo menos, os equilibrados mentalmente, os que não possuem desvios de conduta moral ou mental, amam seus filhos e seus netos acima de tudo. Basta perguntar a qualquer pai verdadeiro, ou a uma mãe de verdade, com que facilidade trocariam suas vidas pelas de seus filhos. Sem desejar ser traiçoeiro ou um canalha, este amor puro e eterno em sua abrangência, não envolve o amor pai e mãe.

O amor pai e mãe se enquadraria em outra linha de ação. Agora o amor pai/mãe e filhos é fortemente regulado por uma evolução genética. A psicologia evolutiva estuda muito bem esta forma natural de amor. Ele não perde sua beleza por ser natural, aliás, ele ganha mais beleza ainda, posto que a natureza levou milhões e milhões de anos aprimorando e construindo este amor, de um quase nada absoluto, nos levando hoje a uma complexidade emocional, mental, genética e hormonal de amarmos de toda pureza nossos filhos. 

Este amor é de longe o mais forte, não significando ser necessariamente o melhor ou o mais ético. Algumas vezes temos filhos que não dignificam a humanidade, mas mesmo assim, no fundo, temos o amor latente por eles. Isso nos obriga a sermos mais conscientes na educação e no amor que damos aos nossos filhos. Mas isto é assunto para outro texto.

Amor Pai e Mãe

Amor relacionamento pai e mãe (por mais maldoso que possa parecer, esposa ou marido não são família, no sentido genético, e devem ser trabalhados por outro tipo de amor...) (amor hormônio) que deve ser trabalhado na busca da construção do AMOR íntimo de respeito e amizade...

A evolução, visando dar maiores garantias de sobrevivência a nossa espécie, gerou uma quase mágica situação hormonal, refletida por neurotransmissores, que permite ao pai e a mãe se manterem atraídos afetivamente enquanto a mãe mais necessita de ajuda do pai para o resguardo e a sobrevida do neném e da ultra jovem criança. 

O problema deste tipo de amor é que ele já vem datado de “fábrica”: de alguns poucos anos até cerca de no máximo dez anos. Com o passar do tempo os hormônios vão se estabilizando e esta ligação se extingue. Seria isto feio ou errado? É claro que não... É uma sábia alternativa que a evolução, em sua não planificada caminhada nos levou. Mas temos um problema com ele. Acabada a ligação inicial, o parceiro/parceira passa a ser uma pessoa normal, e caso durante esta jornada em que os hormônios mantiveram afetivamente ligados parceiro e parceira, não conseguirmos construir um amor consciente, o casamento, ou a união estará fadada ao desgaste e a futura separação. 

A natureza se preocupou com a sobrevida do rebento, nós seres humanos, conscientes da importância de uma família, não somente pela simples sobrevida do bebê, mas sim pela complexidade de uma educação integral, temos de por decisão própria, buscar construir do amor hormônio, um amor compromisso, um amor comprometimento, um amor de referência e reverência pela outra pessoa. Temos enfim que construir um amor de respeito, de amizade, de carinho e de entrelaçamento com o parceiro ou a parceira.

No caso de amor entre seres humanos livres, do mesmo sexo, a primeira parte não existe, ou melhor, existe de forma diferenciada, ou acaba sendo maquiada por uma complexidade neuronal que acaba fazendo nos sentir atraídos pelo mesmo sexo. Existem estudos avançados de características genéticas que levam a este compromisso. Isto seria feio? É claro que não... Se a natureza, pela evolução levou-nos a este estado, tem de existir algum ganho existencial nosso, mesmo que não percebamos, ou que nossa cultura não aceite, ou que nossos preconceitos pareçam nos mostrar incoerentes.

O amor livre afetivo entre seres humanos, mesmo nascendo de princípios genéticos/hormonais, necessita de em seu decorrer, que construamos uma rede neural de afeto e carinho para com o companheiro(a), e este passo é unicamente de cada um... Sem ele, o relacionamento inicial estará fadado ao desgaste e a falência afetiva. Mais uma vez, o AMOR necessita de trabalho e decisão. Construir, da atração inicial, um verdadeiro compromisso de amor e afeto, depende de cada um de nós.

Amor Amizade

Amor AMIZADE, nem todo Amor leva a amizade, mas toda amizade, se sincera, deve estar envolta em amor. O amor amizade é lindo e forte pelo que tem de descompromisso afetivo. A amizade não leva a trocas, e sim a complementação. De qualquer forma a amizade nasce de uma decisão ou de um compromisso, mas sempre individual. Sou eu quem escolho alguém como merecedor de minha amizade. É no fundo um subtipo do amor universal, belo pelo que tem de livre, e livre pelo que tem de amor.

Amor universal

Amor universal, amor doação (não de troca), ético, e distribuído. Amor que nos permite, daqui, nos envolver com crianças na Etiópia, com pessoas no Afeganistão, com doentes na Nigéria, com pobres no Rio de Janeiro, com empresários na empresa que trabalhamos, ou com presidiários em Hortolândia.

O amor universal é o que mais necessita de compromisso interno, de fiel decisão e construção contínua. 
 
Devemos ter muito cuidado em não confundir Amor com paixão. Mesmo sendo a paixão mais arrebatadora do que o amor, aquela não possui a pureza deste, e é movida por uma energia muitas vezes descontrolada, que pode em algum momento de explosão, levar a perda do controle, e a perda da razão. 

Por amor não se mata, mas por paixão, se mata, e ainda se acredita que foi por amor. A paixão pode nos levar a um estado mental comprometido com a posse, o domínio, ou a necessidade de trocar. O amor leva a necessidade de se doar, me doo na força do meu amor, e cobro na força de minha paixão... 

Por mais paradoxal que possa parecer, construo na força de meu amor, e destruo na força de minha paixão... 

A paixão é um exercício mental muito marcante, é verdade, ela nos envolve e nos possui em sua tumultuada energia, nos levando a nos perdermos em seus labirintos e a sucumbirmos em suas emboscadas. Nossa mente é possuída por hormônios e nosso inconsciente é levado de roldão pelo tufão energético que a paixão nos toma. A paixão o que tem de prazerosa tem de traiçoeira.

O amor, jamais nos cega, jamais nos destrói, jamais nos corrompe, jamais nos faz perder nosso complexo comportamento mental. O amor é uma atitude que nasce de nossa unilateralidade. Serei assim um eterno solitário em meu amor, posto que somente eu posso construir meu amor, posso viver meu amor, posso distribuir meu amor. 

O amor como a sentença anterior coloca, deve ser uma decisão interna, deve ser construído e coordenado por comportamentos éticos e coerentes, humanos e sinceros, naturais e compromissados com a decisão de se viver o próprio amor.

Não amamos por naturalidade, mas isto não significa que odiamos por naturalidade. Amor e ódio são construções mentais que devem ser laboradas para que possamos experimentá-los. Agora enquanto o ódio preza a destruição da vida, o Amor preza a construção da vida, a dignificação do ser humano. O amor busca não o saber, mas a sabedoria, o amor busca não a recepção, mas sim a doação, o Amor busca não simplesmente os valores externos, mas a verdade sincera das coisas. O amor tem por necessidade de ser construtivo, por isso é muito mais difícil amar do que odiar, posto que este visa a desconstrução do humano, e destruir sempre foi mais fácil que construir. 

A segunda lei da termodinâmica afirma que tudo caminha para a desordem, apenas a aplicação de trabalho e de energia levam a ordem. O amor é a construção da ordem mental em um mundo de desordem ética e humana. Amar é muito mais difícil que odiar.

Enquanto a paixão toma posse de nosso estado mental por hormônios e neurotransmissores, sendo assim datada, uma paixão ao surgir é fadada a terminar, por isso os apaixonados, que não conseguem construir o amor sincero e verdadeiro acabam trocando sempre de amores. A paixão é temporal, é volúvel e instável. 

O amor, uma vez que é construído, momento a momento, caso a caso, ação a ação, por decisão consciente, por necessidade de dignificar a vida humana, acaba também, quando atingindo seu ápice, nos tomando o controle da mente, mas mantendo a clarividência de nosso raciocínio. Acaba nos iluminando e nos permitindo um estado de autoconsciência que nos inspira e que nos faz parecer transcender a este mundo, mas é apenas porque nossos circuitos neurais descobrem emoções e sentidos adormecidos, que não parecem reais, visto que nossa vida normalmente é dura, fria.
 
O amor nos permite vivenciar uma mágica, mas imanente sensação, quase mística, mas material em toda sua extensão, que nos permite ser unos conosco mesmo e ser ao mesmo tempo unos para com a mãe natureza. Mas este amor não existe de forma latente, mas pode e deve ser construído continuamente. Amar é transcender a vontade de posse, de vaidade, de orgulho, de ciúmes, de inveja, e de medo. O amor nos dá a força de sermos nós mesmos, mas envoltos no desejo sincero de nos colocarmos no lugar dos outros e assim sentirmos por eles o que eles estão sentindo, e assim passamos a nos doar cada vez mais, cada vez com mais amor...
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 20/09/2010
Reeditado em 20/09/2010
Código do texto: T2510067
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