O bicho da escrita

Sua mordida é indolor, tem efeito imediato e se estende até ao infinito. A escrita quando chega coloca-nos numa posição de profunda reflexão com a realidade. Deixamos de ser criaturas amorfas para sermos objeto das palavras.

Quanto mais ela se enraíza em nós mais nós perdemos o controlo sobre a nossa vida terrena. Tornamo-nos egoístas, prepotentes, arrogantes pelo simples fato de ousarmos tocar nas barbas do impossível e imaginário.

Em algumas situações procuramos o contato social por pura distração, ainda que isso sirva como uma forma de podermos dar azo às nossas criações, no fundo, as pessoas tornam-se carne para canhão. Até ao dia em que a pessoa certa aparece, e aí, é um mar de rosas.

Amamos intensamente no real, mas acabamos por trair essas pessoas com nossos pensamentos, que amor é esse então?

Deveríamos condenar nossos pensamentos ruins ao ostracismo, se pena de morte houvesse, eles deveriam ser decapitados.

Somos capazes de controlar as palavras, mas raras são as vezes que conseguimos amestrar nossos sentimentos. Somos por isso, ambíguos.

O sofrimento que os sentimentos nos causam, é a dobrar, a ele temos que juntar o mundo de fantasia que nos consome.

Às vezes traímos a confiança que as pessoas depositam em nós só em aforismos, o que apesar de não ser crime, nos deixa à beira dele.

Hoje disse para meu tio que um dia irei ser escritor... Sabem o que ele respondeu? - Tem juízo meu sobrinho, vai mas é trabalhar, que isso é que dá dinheiro.

- Realmente ele tem razão, como posso ser tão tolo só de pensar que serei algo que não me sustenta. Pior que a cada texto que escrevo mais vontade tenho de abandonar toda a minha vida laboral. Nunca na minha vida me senti tão útil a mim mesmo. Devo renunciar à luxúria e entregar-me ao anonimato?

- Vou pensar com carinho na questão.

Quando faço um comentário aqui no recanto, estou tentando incentivar essa pessoa a continuar, mas ao mesmo tempo, estou-me auto-incentivando. Ler os outros já me foi mais custoso do que hoje, estou aprendendo a lição do 1+1=2

O encontrar pessoas como eu, deixa-me feliz... Verdadeiramente feliz, ao ponto de querer partilhar com elas tudo aquilo que sou. E o melhor é que sinto ser sincero em todos os momentos da interação.

O engraçado da escrita, é que quando sinto que estou a evoluir num estilo, já outro começa a despertar em mim, sempre gostei de crônicas, mas ultimamente descobri que minhas crônicas podem-se tornar em contos num abrir e fechar de olhos. Tanto é que decidi jogar o cimento na parece para ver se cola.

O bicho, qual bicho? Ele anda por aí, sejam fortes e agüentem o ferrão.

Jvcsilva
Enviado por Jvcsilva em 06/09/2010
Reeditado em 07/09/2010
Código do texto: T2482131
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