Passa o tempo que não passa

Passa o tempo que não passa
 
       O tempo, esta ousada e complicada dimensão que compõe com o espaço, nosso tetradimensional espaço/tempo, é envolta ainda em mistérios e nos deixa cheios de curiosidades quanto a sua verdadeira existência e composição.

       Existimos, e somos continuamente impregnados com uma experiência de fluidez do tempo. Tudo nos faz parecer que o tempo não para jamais. Em sua eterna caminhada, ele parece se mover sempre avante, como uma seta perene vindo do passado, chegando ao presente e caminhando pelo futuro, indefinidamente, sem ponto final.

       Apesar de amarmos a simetria, nesta interpretação, o tempo teria tido um início, mas jamais teria um final. O big bang teria sido sua origem, e o seu destino seria a eternidade infinita dos tempos.

       Mas será o tempo algo real, e este real fluiria?

       Permitam-me tentar uma ousada correlação com o espaço. Apesar de abstrato, por não ser material, o espaço é real. Entretanto o espaço não flui, ele não se movimenta. É verdade que ele está em expansão, mas em si ele não se movimenta, são os corpos materiais quem por ele se movimentam.

       Todo movimento, é referencialmente tomado em relação a um observador, esteja ele sobre estado inercial ou em movimento acelerado. Os corpos se movimentam por este estado absoluto que é o espaço. Assim o espaço simplesmente existe, e tudo que possui existência ocupa sucessivas posições referenciais neste espaço.

       Desta mesma forma, o tempo, para mim, possui uma semelhante condição abstrata, posto que também não seja composto de matéria, mas real, posto que exista. Ouso ir contra a tão arraigada interpretação de que o tempo flua.

       Para este observador, o tempo é, nos mesmos moldes do objeto espacial, uma estrutura dimensional absoluta. Ele não flui, ele não possui direção e nem sentido. A dimensão temporal tem sua existência acima da realidade percebida por nossos sentidos.

       O tempo compõe com o espaço, a realidade espaço-temporal que a relatividade tão bem nos coloca. Assim está sujeito as deformações espaços-temporais.

       O tempo está lá, magnânimo, exuberante e absoluto em sua existência. Como a dimensão espacial, o tempo sofre deformações “geométricas” em sua realidade quando submetida à gravidade, ou a movimentos. Mas o tempo em si é absoluto, nos mesmos moldes do espaço.

       Desta forma, ainda conforme o espaço, são os corpos materiais que fluem (se movimentam) pela dimensão temporal, e assim necessitam, também nos moldes dos movimentos espaciais, de referenciais de observação. A fluidez sentida por nossa existência, é na verdade relativa, e somos nós que nos movimentamos pelo tempo, e este movimento seria relativamente diferente para cada corpo/observador, baseado na massa envolvida (não somente do corpo material em questão, mas também do entorno), e na velocidade imprimida. Maior massa, maior gravidade, e o movimento pelo tempo se dá de forma mais lenta. Maior velocidade de movimentação espacial, também implica em menor velocidade temporal.

       Pode parecer loucura. Talvez seja realmente loucura, mas esta é a forma como este pensador lê o universo. Tempo virá em que poderemos ter uma prova mais cabal sobre a composição do tempo e do espaço, poderemos inclusive descobrir, e esta é uma crença minha, que tanto o espaço quanto o tempo não sejam realmente independentes de matéria. Poderemos um dia descobrir que ambos são compostos por elementos quânticos de tempo e de espaço, e elaborados por alguma matéria própria que desconhecemos, e quem sabe ambos possam ter algo a ver com campos específicos que envolvam tanto a matéria escura quanto a energia escura, que hoje são ainda absurdos verdadeiros que necessitamos decifrar.
 
       Pode não ser uma solução bonita, mas discordando do poeta John Keats, “a beleza nunca foi sinônimo de verdade” e parafraseando Marcelo Gleiser “A verdade também nunca foi necessariamente bela”.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 30/08/2010
Reeditado em 30/08/2010
Código do texto: T2468775
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