A arte na minha existência

Preciso furiosamente de arte na minha existência.

Preciso de música, de pianos, preciso de letras espalhadas porque unidas jamais me dão respostas. As palavras que consigo encontrar constituem um quebra-cabeça que nunca formam uma frase, por isso separo-as sem muita ordem. Deixo-as independentes por aqui e por ali... Desejo lá ter conhecimento! Eu compreendo as letras, quero ser tão independente quanto elas e de preferência que se distanciem de mim. Não desejo respostas e desejo todas ao mesmo tempo. Desejo embrulhar-me na relva, mas também quero pular do abismo.

Apetece-me abrir a geladeira, jogar a comida que não presta toda ao chão. A comida que me faz mal, que me torna gorda, que me deixa o corpo contaminado, que me provoca vício.

Morango. Aprecio morango. Apetece-me apertar um na minha mão, contemplá-lo destruído entre os meus dedos e degustá-lo assim mesmo, sem me importar se sujo a face e as vestes. E talvez quando o seu gosto se juntar com a minha saliva quente, a minha expressão de ganância se converta em grande satisfação.

Preciso de arte na minha vida, mas estou enfastiada de representações. Não desejo adquirir roupa de marca. Apetece-me não precisar nem mesmo de vestes, de não ter que sentir o algodão encarcerar-me os braços e o jeans as pernas. Quero enroscar-me no vento frio apenas e tirar peça a peça, disparando-as para muito longe. Quero que o vento seja forte e que o meu curto cabelo cacheado baile na minha cabeça.

Desejo despertar. Desejo tanto despertar que sinto alguma dor quando acordo. Eu já devia ter conhecimento de que a ia sentir. Eu já devia ter conhecimento de que devia adormecer porque a minha vida sempre teve tendência a ruir-se no instante em que desperto. Mas não me apetece dormir e luto para permanecer desperta mesmo que saiba que alguma coisa vai desmoronar. Conservo-me atenta e seguro em tudo à minha volta porque desejo que tudo se preserve no devido lugar. Esqueço-me de que também eu posso ruir, mas pouco me interesso. Eu aprecio me sentir desse modo. Indefesa.

Desejo um abraço, o teu abraço. Que me fixes a ti, que me deixes desprovida de saída possível. Tu sabes que eu quero retirar-me da arte na minha existência. Neste momento ela é uma tela vazia e eu necessito furiosamente de arte na minha existência.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 18/08/2010
Código do texto: T2446074
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