[O que me Salva...]
... é o queijo!
Ah, não me importa se a comida do restaurante é péssima, ou se na geladeira não há restos de comida para eu "estragar" num forno de micro-ondas, ou se o bar é raleira pobre de ponta-de-rua, ou, se numa longa viagem, nada houver no carro além de fragmentos de queijo seco, e água — sim, se houver queijo, eu estarei salvo!
Ah, eu me recrianço com certas ideias extravagantes; e tenho cada ideia, cada ideia! Assim como esta: eu sonhava em aportar numa grande ilha-queijo, uma montanha alta, de modo que eu pudesse perfurar em qualquer canto, e comer... queijo! A base de tudo seria feita de queijo meia-cura, como aquele que vem dos mais distantes interiores de Minas, é claro; mas em certas regiões, haveria aflorações de parmesão, gorgonzola, gruyere, requeijão seco, cabacinha, tranças...
E olha só: eu faria canais nesse queijo-ilha; canais tipo tobogã, por onde correria vinho tinto do bom, e ainda viriam, deslizando montanha abaixo, mulheres bonitas e sorridentes — deslizando diretamente para mim, isto é, para a minha língua lambilenta!
Já me entristeço: um dia, eu sei, eu teria de partir da minha onírica ilha-queijo, pois afinal, os humanos somos seres que sempre partem de seus sonhos, e partem, principalmente, dos sonhos mais alegres, mais infantis, e mais impossíveis... como esse... Sonho, é sonho, ara! E quem diz que sonho é de graça, se esquece das marcas doloridas que certos sonhos deixam na gente...
Ah, falar miolo-de-pote - mania que não me larga! Mas uma coisa é certa: o queijo já me salvou de cada enrosco de comida ruim, cada enrosco...
[Vivo... pois eu não me levo a sério!]
[Penas do Desterro, 13 de agosto de 2010]