O Tempo

Minha vida tornou-se um feixe de ideologias, caminhando de forma disforme perante o existente desde Alexandre em seu apogeu. Estou em condição de tortura, meio às convulsões discretas de meus próprios adjetivos. Dói-me a dor do chão ao ver as pessoas pisá-lo, o mesmo chão ao qual formulei minhas idéias. Jamais irei entender este progresso mortal de dor e alívio. Do passo e despasso do caminhar vazio de humanidade sem compasso. Restam-me indagações meio à vida, pois na vida há o tempo. E aquela só faz sentido quando finita, quando mortal. Desta forma o tempo é o salário do pecado, é a morte. Nenhum momento histórico foi tão despercebido como este, entre um chá, que bebo cautelosamente, e olhares para baixo, olhares para a mente, entre o chão e Deus.

Sinto medo destes passos alheios, passos tropeços de olhares ocupados. Tropeços no escuro, palpando a própria face em um muro. Quero tudo, mas não sei o que é tudo. Imagino que seja este mundo que vejo em viagem ou a lágrima de saudade que esqueço. Perco-me, e me encontro em tropeços de passos cansados. Liberdade ou libertinagem traz o tempo? Ah, a verdade mentirosa do tudo. Quero somente a verdade. Estou, não vou, e quero. O querer é a negativa à solidão, é a reverencia a esta dor cansada, sem esperança. Pela pura verdade, esqueço. E onde não há estrada para ser alcançada, eu não minto e não engano. E como criança brincando, apenas vivo, vivo paixão em meu coração, e, esquecendo a auto-piedade, lembro-me de quem ainda vou ser.

Estas impressões de minhas idéias, sob minha caligrafia, confortam minha razão. Mas sou impossibilitado de esquecer a página em branco que precede este prazer. Criei esperança na folha, dei destino às palavras, sendo que minha única certeza é o Divino. Esse é o destino, e não o ônibus que aguardo sem saber hora. Na verdade, é a demora que anseio, a demora sem culpa pessoal, pois ela me faz pensar. E pensar, me faz continuar.

No ponto que me encontro, não vejo o mundo, vejo apenas o regresso dos passos cansados, passos no espaço. Às vezes estar em volta de um relógio não permite que o tempo passe, e entender isso é o fim do silêncio. E isso se faz com um grito mudo de quem quer falar o que não se pode ouvir. Aqui, no mundo, é a beleza que engana. E são sussurros ao pé do ouvido que matam. Sempre convincentes, sempre despertando quem ainda não deve acordar. Não podem e não devem, pois vão querer continuar sonhando.

Tempo perdido, é sem dúvidas, uma causa ganha. Quem diria que eu, humano, violaria a causa da anáfora, que tal façanha. A hipocrisia é a permuta do pecado, por isso falo, por isso sofro o tempo.

Mesmo assim, não é esta a função a qual busco viver. Se assim fosse, estaria apenas vivendo em prelúdio ao respeito à vida ou a um amor básico. Todo pensamento de concernência ao que conhecemos como comportamento de vida, social ou integro, resume-se em amor básico. Pois este amor em si não é sábio, é como vômito resultante de uma congestão de idéias comportamentais. A generalização de tal afirmação é dada por mim através de concatenações sólidas e responsáveis sobre o amor doado ou criado de forma egoísta. E este que nos leva a sofrer o tempo, sendo a semente do próprio.

Referi-me a sabedoria, pois esta é verdadeiramente atemporal no sentido de condição humana sob o tempo. Mas estou no tempo, ah...Deixe para o próximo copo.