[Descompreensão]
Faz tanto tempo... tudo foi há tanto tempo...
Como é que se pode chegar a esta constatação, e ainda assim, deixar de ir ao velório de um conhecido? Como é que se pode emitir essa exalação da própria passagem e, ao mesmo tempo, ser tomado de futurações? Como é que esse choque da finitude não leva a um humilde e profundo sentimento de desamparo?
Se cabe um pensamento maior, que fale de origens, é este: não chegamos - fomos expulsos! Somos seres de exclusão, e a nossa realidade é partir, partir... partir desse deserto, dessa paisagem interna devastada, e sem nexo! Nenhuma busca terá fim!
Descompreensão do ser - o ensinamento primeiro da vida?
[Penas do Desterro, 10 de agosto de 2010]