ALICE CRESCEU!
Alice olha o compêndio calendárico, onde tem um desenho seu matando o
dragão, o “Jaguadarte”, e diz: “Esta não sou eu.!”
O coelho incrédulo pergunta a Absolen: “Ela é Alice?”
Absolen responde: “Neeem de longe.”
Não podemos ser quem não queremos ser e isso não significa que não sejamos.
Destarte podemos ser quem buscamos ser, mesmo que este ser seja ainda uma incógnita, e nesta busca crescemos e nos encontramos.
Alice cresceu...
Crescer é assumir responsabilidades.
Permito-me abrir um parênteses para destacar que Johnny Deep na pele do chapeleiro mostrou a face criativa, divertida, questionadora, inquietante e porque não dizer fascinante daqueles que “quebram” padrões...
Afinal o chapeleiro é maluco mesmo? É assim que olhamos para ele no
decorrer do enredo? É?
Deve ser por isso que Alice titubeou diante da volta.
Sim ela tinha escolha, como todos temos, ela podia voltar ao “mundo real” ou permanecer ao lado do chapeleiro e sua trup. Crescimento é uma escolha e não tem nada a ver com a passagem dos anos.
E o coelho com seu relógio, sempre correndo e sempre atrasado...afinal quem sempre corre está sempre atrasado, certo? senão porque correria tanto? E ainda outra pergunta: Será que temos corrido tanto quanto o coelho? E por que? O coelho procurava Alice e encontrou! E nós que “Alice” procuramos? Mas deixemos esta reflexão para outro momento, por hora quero concentrar-me em outros assuntos...
Alice no País da Maravilhas nos fala do crescimento, da saudade da
infância, de um desejo, que os humanos mais malucos e também mais humanos, tem vez ou outra: o retorno a infância. Um desejo que nos seduz quando estamos diante de uma decisão crucial em nossas vidas. Senão vejamos, quando foi que Alice voltou ao maravilhoso país do Chapeleiro? Ohhhh eu disse país do Chapeleiro, é que eu amei o Chapeleiro no filme, ahhh o gato risonho também e o coelho, particularmente acho que ele é mais maluco que o Chapeleiro, mas sigamos. Quando mesmo Alice voltou ao pais do chapeleiro?
Quando diante de um “horripilante” “bom partido” ela declina do pedido de casamento...ihhhh contei uma parte do filme.
O desejo de volta à infância não deixa de ser um revival daquela sensação que tínhamos de que tudo pode ser resolvido. Não é assim com as crianças, nos dando soluções para tudo?
A pergunta que não quer calar é: se por um lado hoje sabemos que nem tudo pode ser solucionado, por outro lado, será que em algum lugar do caminho não deixamos a nossa criatividade, a nossa coragem, ou simplesmente, o conhecimento de que temos poder? Não ilimitado. Mas será que não temos poder para fazer muito mais do que fazemos? E por favor não confundamos poder com controle.
E ainda, para crescer Alice buscou e ela não foi atrás de respostas
prontas, ela buscou em SEU país! Buscar é fundamental, busca é ambição, não desmedida, mas é a ambição por um mundo melhor, diferente. Alice cresceu porque buscava. Buscava um mundo com regras diferentes. Alice não queria corpete, não queria aquela dança engessada, insossa, sem imaginação.
Mas crescer não é só buscar, é assumir responsabilidades. Crescer é também enfrentar o “Jaguadarte”. O medo do fim, o fim da infância. Das certezas e das seguranças que a infância traz e porque não dizer do conforto. Felizmente como Alice, chega sempre o momento em que confortos e certezas não nos preenchem mais. Assumir responsabilidade é lançar mão da coragem e a coragem é uma qualidade que só colocamos à prova diante do medo. Somos
verdadeiramente corajosos? Sobreviveremos ao “Jaguadarte”?
Alice escolheu, decidiu. Alice sobreviveu. Alice venceu! Não uma vitória
acabada, mas uma vitória que é o prelúdio de um crescimento ainda maior. Afinal não é assim com todas as vitórias?
Alice deixa para traz o chapeleiro, o coelho, o fascinante “gato risonho” e parte para as suas “Boas lonjuras”. Alice nos ensina que a liberdade só existe de fato em meio à responsabilidade. Ela tem perguntas a responder, coisas que deve fazer e não pode fazê-lo como uma menina, ela só pode fazê-lo sendo uma mulher...mas ela não se torna uma mulher apenas trocando de roupa e comemorando a passagem dos anos.
Ela enfrentou o “Jaguadarte”! E para enfrentá-lo percorreu o caminho.
E nós, como enfrentamos o “Jaguadarte”? Com espada em punho? Com lamúrias? Reclamações? Acusações? Críticas vazias, que apenas expressam nossa raiva e frustração? E a pergunta ainda mais importante, nós enfrentamos o “Jaguadarte”?
E então Alice devolve a pergunta ao chapeleiro: Qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?
E o chapeleiro responde...
O que ele responde? Só vendo o filme.
Afinal que graça teria se todas as perguntas fossem respondidas do jeito que gostaríamos?
O chapeleiro não é maluco, ele é sábio.
Ele soube esperar a volta de Alice, teve paciência. Ele soube direcionar. Ele soube se sacrificar, dar de si no momento decisivo. Ele confiou! Ele libertou!
E aí, ele é maluco mesmo? Só porque usa roupas diferentes e cabelos
vermelhos e espetados?
Pudera tivéssemos mais chapeleiros, não no mundo de Alice, mas no nosso!
Valéria Trindade