Como eu era bonito

E se depois de eu nascer nos braços duma mãe brasileira

E fosse levado pelos ventos nordestes para acima das hipocrisias?

Seria eu poeta neste mundo de alegria, certezas não existem.

Quem quiser me explicar, fala com calma, que seja uma voz de mulher

Como imagino tua voz tão rouca e tão bela como a de uma menina

Naquele tempo havia meninas bonitas. Foi-se, passou, e eu?

Talvez se enquanto respira-se eu tivesse fôlego de atrever-me...

Mas não tive, fui vítima de mim mesmo, só a ti a timidez é uma virtude

Veja, meu coração sagra nas minhas mãos, podia ser recém nascido...

Mas, é pós-mal-amado, veja, o pobrezinho é feio, mal latente, quase frio

Veja! Parece uma rima morta, ou uma linha reta... completamente torta!

Abriu seus olhos castanhos, viu no mundo a luz que pensava alcançar

Chorou naqueles braços seguros, os meus muito finos, os da minha mãe

E também vi aqueles cabelos pretos, me davam segurança como outros

Dourados eram os cachos que a vida me dera, e depois ficaram curtos como ela

Então me dei para a senhorita de cabelos louros, sem jantar, direto as velas

Não, eu não poderia ter nascido diferente do meu coração, pois o sou

Além disto, minhas mãos me ajudaram bastante, pude escrever...

Meu olfato me agradava e me magoava, você tem um perfume tão...

Tão gostoso como teu corpo e ao cheiro que teria se castanhos exalassem

E me vejo tão protegido e fraco: Eu, coração caído, fui bater em outro seio

Há tempos não tenho o gosto de andar como eu ando, um tanto estranho

E o modo bonito com que eu segurava a mochila, coçava as sobrancelhas

Quando eu ficava nervoso com aquele perfume, cheiro de banho, sonhos

Quando eu escutava canções e ficava olhando para cima. Sonhava ser o que sou?

Sonhava não ser mais ninguém?Eu me estraguei, eu era tão bonito,

Eu dizia que ia fazer algo, e esquecia. Eu dizia que ia fazer algo, e mentia...

Mas como foi bom, não se deve chorar o leite derramado, mas nem derramei...

Mas não adianta, minha vida não existe mais, a vigor se foi, tudo, na verdade

Hoje tenho culpa, tenho que me calar diante de tudo, pois não posso falar

Fiquei disperso, pó. Hoje eu não deixo pra depois o que eu prometia fazer.

Gostava porém, de fazê-lo por você. Como a vida é vivível, o coração nem soa mais.