Sexta-feira
E me vejo cheio de coisas para fazer
E cheio de gente que não me olha
E daquelas pessoas que não nos percebem
Não percebem que meus olhos escuros
Escondem um corpo cheio de luz
Quem passa e me vê calado
Escrevendo versos em letra ilegível
Não imagina como é uma rebelião plausível
Rascunhos vivos num papel inanimado
E moça dum dos bancos
Da outra ponta, no corredor
Parece-me bonita, não sei
Pois meus olhos olham pelos cantos
E se não tenho coragem de lhe prender meus olhos
É por que seus olhos me impedem
E sua indiferença, e seu corpo belo...
A meu coração quase ferem
Eu não sei quanto tempo ela me olha
Ou quanto tempo ela deixou de me notar
Ou se ela nem nota? Eu até a sua respiração
E se ela ajeita seu cabelo
É por que se mexe:Levanta-se, deixa-nos
Pensei que fosse loura, mas bonita ainda era
Meu coração abriga muitas flores
Entre elas uma pétala frágil
Frágil como que vos fala
Frágil como não sois
Frágil como minha vida curta
Frágil como o fio fino que prende minha vida ao meu corpo
Frágil como a doçura sensível daquela flor
Como nome belo e comum
Com um cheiro de mulher
Com um rosto de menina
A que a vida mesmo nos serve?
Meu coração abriga diversas flores
E é frágil ele como quem quer que o habite
Que sejais fortes!
Que sejais vigorosos!
Que da vida aproveiteis o gozo!
Deixai a mim a função de ser frágil.