Colecionadores ou colecionáveis?

Existe sempre uma prateleira, num sótão com muita poeira acumulada e com teias de aranha, onde se põem os brinquedos que já não queremos (ou aquela peça de aparência desagradável que um parente presenteou no natal passado).

Existe sempre quem nos coloca nessa prateleira da sua lembrança no momento em que deixamos de ser um brinquedo que cativa e passamos a ser um desagrado. Apenas seremos esse brinquedo se não tivermos a noção de que a qualidade que já tivemos se dispersou. Todavia, possuir essa noção não nos tira da dita prateleira e ainda assim tem possibilidade de garantir uma boa dose de indignação, raiva, ira, descontentamento. Temos possibilidade de aprender a não ir para a prateleira de mais ninguém, no futuro, ou o oposto, dar existência a nossa própria coleção de brinquedos.

Ainda que não exista a bestialidade desprovida da besta, e talvez o meio termo seja impossível, a verdade é que temos uma tendência - inata ou adquirida, sem sentimentos ou só mais um mecanismo de auto-conservação - para organizar e encaixotar os outros. Arrumamos quem já nos magoou, quem nunca nos provocou sofrimento, mas por alguma razão perdeu o interesse, ou só "porque sim".

Fazemos arrumações, sobretudo quando interpretamos a atitude de uma pessoa de uma maneira que para nós tem o nome de decepção. Podemos ter indícios consistentes a fundamentar essa desilusão, argumentos débeis ou sequer ter provas. A realidade é que o clique que acontece quando interpretamos a maneira de se comportar de uma pessoa como uma desilusão para nós, tem um impacto forte, pode não ser instantâneo, mas essa pessoa já tem lugar reservado na nossa estante coberta de poeira.

Vocês são colecionadores, colecionáveis ou um pouquinho dos dois?

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 01/08/2010
Código do texto: T2412773
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