[O Valor da Reflexão]
Um instante de reflexão — uma breve parada na nossa vertiginosa carreira rumo ao túmulo — eis o que, assim me parece, vale a muda contemplação de uma obra de arte, ou a leitura silenciosa de um poema, ou o escutar de uma música que nos toca.
Um texto, seja qual for, e de quem for, não é nada; é apenas (ou talvez) um retrato malfeito de um pensamento vago, errante, impreciso, incompleto e, portanto, mutável... mutante, com certeza! Quando escrevo, tenho uma sensação banal - a mesma que tem todo aquele que escreve: a maior parte da "massa" ficou fora da fôrma, ou seja, do espaço alocado ao texto - daí, a reincidência, e reincidência pra valer, até a minha morte!
Trocadilhando: um comentário ao texto vai pelo mesmo ralo que o texto, pois é texto também: texto que apanha do outro o sentido que consegue captar — o único sentido que há no mundo é o sentido do leitor! — e deforma ainda mais o que, por si só, já era uma deformação de pensamento — ninguém escreve exatamente o que pensou! O ser profundo e essencial grita de uma caverna inextensa e escura... e sem achar saída!
Na vida, o que vale mesmo são os atos... Assim, faço a pergunta a que já respondi: qual o valor da reflexão que a obra enseja? Não sei; e não me atreveria a afirmar nada... exceto que a reflexão é uma parada para respirar – um parada diante de um marco que alguém cravou na estrada, na trilha da nossa morte - se é que a isto se pode chamar "valor"...
[Penas do Desterro, 02h28 de 30 de julho de 2010]