Os eus
Outras decepções me marcaram desde então. Não esqueço: namoradas me traíram; amigos que me consideraram pobre (eu não tinha dinheiro para comprar um mísero refrigerante na praia) seguiram por outras trilhas.Perguntam-me sobre a minha tristeza. Respondo: ela é filha das decepções, mas a mãe dos vários eus que convivem dentro de mim. Sou filho das dores e alegrias que me sobrevieram ao longo dos anos. Viver é isso: não deixar que as alegrias me deixem superficial ou que as dores me desfigurem pelo ódio. : “Eu somos tristes. Não me engano, digo bem. Ou talvez: nós sou triste? Porque dentro de mim, . Sou muitos. E esses todos disputam minha única vida. Vamos tendo nossas mortes. Mas parto foi só um. Aí, o problema. Por isso, quando conto a minha história me misturo, mulato não de raças, mas de existências”.Nas existências que vivo, aprendo resiliência, perseverança e santa teimosia que, juntas, me animam ao imperativo de amar.