Por Trás do Óbvio

O lance subliminar que é engraçado. O jogar. Eu poderia ser mais direto, ir bem lá no âmago da questão mas isso quebraria o clima, o suspense, as fantasias que ficam nas entrelinhas. O encanto. Que é uma coisa que deve ser cultivada. Detalhadamente cultivada, cultuada. O palavreado incisivo pode quebrar os elos que são fortificados e estabelecidos nos rodeios sussurrados ao pé do ouvido. A realidade exposta de forma crua. Não, não tão rapidamente assim. Ela pode ficar para o depois, quando ela - a realidade - vira realidade e o encanto tem as suas teorias colocadas em prática. Mas antes, não. Tem que se trabalhar o lúdico libidinoso. Ver a mente do outro se enveredando por caminhos escarlates e flamejantes, com sombras que tonificam os músculos e definem linhas corporais que criam esgares de prazer. O jogar. É um jogo. Viciante. Instantaneamente viciante, assim que descoberto. A aposta é o prazer pleno do outro. Assim que tem que ser. Olhar nos olhos e não só extrair deles o prazer que podem proporcionar quando esgazeados sob o véu da luxúria; não, é olhar nos olhos e incutir o mais profundamente que for possível o prazer que podemos dar. Criar. Criar possibilidades. Criar toques; faze-los serem sentidos só com a alteração da entonação da revelação dos lugares que serão explorados e roçados por rijas falanges e macias ou calejadas palmas. O embate violento dentro de um envelope sem cola. O conteúdo deve ser exposto antes de o remetente ser encontrado? Apenas jogue. Aposte todas as fichas. Trabalhe o mental, o físico, o espiritual. Esteja preparado. Estar preparado não significa marcar o horário, estipular o que será feito. Não, esteja preparado para o acaso. O acaso é uma fase do jogo. A segunda ou a sexta fase, não sei dizer, mas se o acaso surge é porque se está no caminho certo. Lembre-se do prêmio. A vitória a dois. Pois nesse jogo não há empate. Doce vício! Olhos castanhos. Claros. Devoradores de corpos, provocadores de nuances. Boca carnuda, provocante, sensual. Brilhante, pronta para ser açoitada com ensopados beijos sôfregos e fortes e intensos. Pintas, manchas de nascença. Cicatrizes. Toda uma composição. Sedutora. Irresistível. Ah, relógio que caminha contra as nossas vontades, seja misericordioso com essas duas pobres almas loucas para se amarem. Um semblante angelical. Uma cara de paisagem. E uma áurea infestada de desejos que fazem tremelicar de cobiça o mais casto dos seres. Doce vício. Doce como o mel...

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 29/07/2010
Código do texto: T2407024
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