No Crepusculo da vida

No Crepúsculo da vida

Sinto vivo o espírito de juventude,

Mas será que isso me importa,

Se está débil, caduco e sem saúde,

O corpo frágil que o transporta?

Sinto presentes as dores como ferrões,

A quererem impor-me o desalento,

Ou a travar-me as normais funções,

A que não posso como antes estar atento.

Aos poucos, o vigor estou perdendo,

Mas luto e recuso-me a aceitar,

Que a velhice me está vencendo,

E que meus dias estão a minguar.

Entardece o dia, entardece a vida,

Avizinha-se o tempo de fraqueza;

São horas de preparar a despedida,

E aceitar as leis da Natureza.

Sei que terminei a longa subida,

Que a vida me decretou como sorte,

E que a passos largos na descida,

Breve pagarei tributo à morte.

Parto preocupado e apreensivo,

Com o futuro da terra e do homem,

Por ver que não há lenitivo,

Que alivie as dores que o consomem.

Guardo e posso sentir saudade,

De algumas épocas da minha vida,

Mas não desejo a continuidade,

Duma existência apenas vegetativa.

Ainda que pudesse ter vigor,

Para suportar os anos do futuro,

Não me seduz a vida de terror,

No planeta que vejo tão inseguro.

Levo comigo as dores, desilusões,

Do mundo injusto dos governantes,

Por discordar das suas posições,

Que não foram em nada edificantes.

Levo saudades da Terra, com certeza,

Que é natural, é mãe e é boa,

Mas não comungo igual justeza,

Quanto ao homem que a povoa.

CarlosdoSoito

Alberto Carvalheiras
Enviado por Alberto Carvalheiras em 14/09/2006
Código do texto: T240193