A nobreza do amor

Hoje o dia amanheceu nublado e não ensolarado como o esperado, talvez um reflexo do que o amor se transformou na noite passada. A secretaria eletrônica amanheceu saturada e em cada mensagem, uma tentativa de santificar os teus próprios atos, já não bastasse fantasiar suas verdades, agora tenta fantasiar suas próprias mentiras.

Eu tento entender os teus motivos, tento encontrar algo que explique tal atitude, talvez numa tentativa de fugir de uma realidade que da voltas em minha cabeça e não encontra abrigo. Não preciso de palavras, não preciso de desculpas, não quando suas atitudes estão sempre na contramão. O amor às vezes se mostra covarde, de cara se mostra nobre, puro e tudo aquilo o que esperamos dele, nos faz acreditar em suas verdades e assim, lhe oferecemos abrigo e a partir daí ele se acomoda, suas verdades já não convidam e mesmo diante de tanta dor, ele não se mostra capaz de simplesmente partir.

A campainha toca e ao abrir a porta, me deparo com os olhos que não sabem mentir, que em maio a mais e mais desculpas, sangram diante de tantas palavras já perdidas e sem sentido. Eu apenas escuto, esperando ainda algo que justifique aquilo tudo e para a minha frustração, suas palavras não me confortam em nada, se ela ao menos pudesse dar algum sinal de que ela mesma acreditasse naquilo tudo, mas não, e aquilo só me machucava mais e em meio a minha descrença, ela passou a tentar moldar a culpa sobre mim e só piorava as coisas. Ela só tinha que dizer que errou, apenas assumir ao invés de tentar me fazer acreditar que aquilo não foi importante, que aquilo não fez diferença. Às vezes me pergunto o que leva uma pessoa a fazer algo assim, talvez ela tenha enxergado algo em alguém que não exista em mim, e mesmo que ela tenha se enganado, ainda sim, esse algo que ela viu, parece não existir em mim e a partir daí percebo que também não sou o que o amor esperou de mim, e sua tentativa de conseguir que eu me sentisse culpado, fora bem sucedida. Isso não é justo, talvez o amor não seja justo e a única coisa que o enobreça, seja a forma como não assumimos que ele não existe.

Inspirado, eu sento e escrevo e em meio a tantas verdades inesperadas, que entre dores e mais dores que se fazem presente, onde se somam e resultam em mais dores que se lapidam dando forma à poesia. Talvez devêssemos mesmo ser assim, fazer da dor e de tudo inspiração, lapidar as angustias e transformá-las em algo que nos permita seguir em frente.