Incansável cansaço

Cansaço. Corpo e olheiras. Sono.Estressado. Impaciente. Atarefado – cansaço.

O corpo dá sinais claros de que me pede um pouco de prudência. A cabeça, por sua vez, reluta, sem paciência. Os olhos podem até fechar, mas a cabeça funciona semelhante ao tique-taque do relógio: sem parar os ponteiros vão girando e se encontrando em compromissos e tarefas que não podem ser adiadas.

Inadiável cansaço. Parece que tudo tem pressa – e tudo tem prazo! As coisas, os dias, as pessoas, os celulares, os e-mails – todos tão urgentes quanto necessários. O fim do mundo se aproxima a cada fim de prazo. Incansável cansaço.

São essas as responsabilidades de gente grande? Crescer é isto, portanto? Viver é foda, é um grande desafio. Não sou feito de desistências, vou me fazendo pelo caminho. Mas ninguém disse que ele seria tão longo, ninguém nunca disse também o contrário – menos mal, portanto.

Ocupar espaços, alcançar respeito, me tornar considerado. Tudo isso tem um preço – ou pior, tem um prazo. E é temporário, é inacabado. Pelas razões certas, rejeito essas previsões. Não quero respeito, renome ou ser falado por bocas pequenas.

Quero, inclusive, me tornar desnecessário, ao fim do meu passo, no compasso de uma bossa nova que amadurece enquanto envelhecem os velhos acordes enquanto acordo e me debruço sobre a vida: o horizonte se desfaz em poesia e eu calculo meu incansável cansaço.

O que há de ser a paz se não o silêncio e o sonhar? O que é a poesia se não o encontro de si mesmo com o mar? As pegadas na areia se confundem no vem e vai – sou caos, sou cais, sou ás do teu baralho.

Como um jovem velho que o peso de responsabilidades me moldou, repito: estou cansado, embora feliz – estou feliz, embora cansado. E embora eu vou...

Lucas Sidrim
Enviado por Lucas Sidrim em 23/07/2010
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