VIESTE DE NOVO
VIESTE DE NOVO
JoaKim Santos
Estás certo? Assombras o meu pensamento como se me obrigasses a reiniciar a minha vida adormecida de tal tormento que forçosamente inicias uma viagem através das minhas memórias nas imagens recompostas pelas palavras que encarno e que nem sempre a realidade favorece-me.
Vieste… de novo. Dividindo-me em partes desiguais, palavras que desnudam a sensatez lançando-me na calçada como um bêbado prostrado. Abandono-me então em delírios procurando nas palavras a minha defesa, construindo muralhas, criando um exército de alucinações que vão ganhando vida dentro de mim criando uma armadura da qual sou seu recluso. Que sou eu para ti, um pedaço de lixo? Ou apenas pó que juntaste um pouco de vida e quiseste fazer uma obra-prima e saiu um barro cristal … ou uma pedra no teu sapato? Eu pelo caminho que estendes-me, aberrante e paradoxo nada dás-me a escolher, ofereces-me dilemas, apenas para descortinar a minha existência.
Mas estarei atento e contornarei tais abismos, só em meu sono conseguirás empurrar-me no vácuo da solidão, mas tentarei defender-me até nos sonhos com a poesia, ela mata-me, ama-me e faz-me renascer mais crédulo da tua ironia, assim ignoro a tua sentença que não passará para mim de um mero desabafo e a tua decadência na autoridade que tentas impor. Serás o diabo sem inferno, o país maravilha que a Alice encontrou.
Já te fiz alguns poemas e os escrevi no meu coração, meu remédio és tu, o antídoto contra a insegurança que julgas sempre conseguir, mas só os tolos acreditam em ti enquanto eu uso as armas que sempre as mantive, a esperança, a paciência e o amor que vencem e saltam as barreiras da solidão. Vens de mansinho e tornas-te judas, atiras-me á arena, aos leões, esquecestes que sou pó e nada consegues corromper a minha essência da qual fui moldado e nada e ninguém a mudará quanto mais destruir. Bela é sempre a felicidade que acolhe-me a alma sem medo da tua sombra. Confesso que tem momentos que dominas meu pensamento e atiras-me no nevoeiro, incapaz de ver até meus gestos numa total escuridão, desistindo de encontrar o caminho da luz e feres-me a alma com teus mórbidos sorrisos em silêncio que revelam gargalhadas fantasmagóricas assustando a própria morte, quantas vezes essas imagens passaram em meus pesadelos, vendo um esqueleto fugindo com o seu caixão às costas…hoje rio-me, mas será que isso aconteceu ou eu mesmo o acompanhei na sua fuga fugindo do medo incompatível no destino forçado. Mas a felicidade sempre esteve comigo, mesmo depois de tu te manifestares, vieste e foste e eu chorei de alegria, hoje fazes-me chorar de já te fizeste anunciar…
Hoje sei que o amor é muito forte e dita o destino e os meus dilemas não tem base na realidade como já disse um filósofo e poeta: Faça aquilo que você receia e a morte do medo será certa. Mas contra factos não há argumentos e eu caí nas mãos do talhante que teima em separar-me dos meus princípios, já tive os meus encontros imediatos os meus amores e desamores, já amei namoradas que nunca tive e sempre acreditei em Deus e na ciência, queria eu ser aviador e inventor… mas sei que foi um crime horrendo, afirmo matei-o, não fui nem sou carrasco, ainda espero a sentença, mas não o consegui reprimir, afasta-lo do meu destino. Hoje levanta-se quando os primeiros raios de luz de sol rompem pelo meu quarto e quando a lua vem contar-me seus segredos. Somos cúmplices, a linguagem que só os poetas conhecem, o silencio…
Chegou a hora, sei que sou esperado tal como tive como companhia a minha sombra, o meu outro eu exilado no meu próprio saber, carecido da minha vontade, apenas o cheiro a rosas invade o meu espaço numa tão bela essência que só o mar sabe imitar, meu amigo que resguarda meu leito, meus segredos e minhas confissões. Minha vida é um dilema entre tantos outros. Mas saberei esperar, sei que não vais faltar, és daqueles que cumpre sem promessa, espero que não a perfaças. Ate pelo meu amor receio-te e, sempre achei-me forte, um super herói, o fui dos meus filhos até ser substituído por um daqueles super heróis da televisão, um outro dilema das nossas vidas, tal como tu serás sempre, mesmo estando perto ou longe nunca saberei, apenas te sentirei, com a esperança e até com desilusão, mas o amor esta sempre presente…
Portugal / Loures
11 Julho 2010